Impeachment alia interesses internacionais a brasileiros antipátria

Não somos uma ilha. A partir do século 16 este imenso território foi integrado aos circuitos mundiais de comércio, produção e extração de riquezas com o início da colonização portuguesa, que durou 322 anos. O Império, mais 67 anos. A República, de 1889, completou 126 anos em 15 de novembro passado. Apesar disso nossa inserção no mundo da economia, dos interesses geopolíticos e dos negócios não se alterou muito em função da trajetória, da colônia até a república.

Por Paulo Rubem Santiago*

Paulo Rubem Santiago

Mudamos a forma e as características dessa inserção, mas nem tanto os perfis e o peso da mesma. Antes, Inglaterra, Portugal e Espanha repartiam o mundo.

Hoje, gigantescas corporações empresariais ancoradas num seleto grupo de países, ao lado de fundos financeiros, já quase cinco vezes maiores que a esfera produtiva mundial, redesenham as relações centro-periferia, “metrópoles-colônias”, atuando tanto pela extração de riquezas minerais e agrícolas quanto de riquezas nas esferas financeiras, em transações com moedas, papéis públicos, privados e novos produtos financeiros. É esse o centro da disputa mundial e o motor da acumulação do capitalismo hoje.

É nessa estrutura que os grupos dominantes querem encaixar os países da periferia. Nisso, encontram aliados internos em cada país. Atacam seus patrimônios (empresas públicas, reservas minerais), adentram seu mundo econômico com soluções para a inflação, para as áreas tributária e fiscal, de modo a disso retirarem as maiores parcelas de riquezas possíveis.

Para isso financiam partidos, mídias e campanhas, elegem governos e parlamentos, forçam a barra para que seus prepostos assumam postos-chave nas administrações, ainda que de governos que não apoiaram, lugares nos quais possam decidir os rumos do patrimônio dessas nações, suas economias e finanças públicas.

Em nome do interesse geral (combate à inflação, por exemplo) patrocinam seus sórdidos interesses particulares (ganhar com a dívida pública e a elevação das taxas de juros contra a inflação). Em nome das “reformas do estado” e de conceitos pomposos como “eficiência” e “eficácia”, forjam mídias e obtêm consensos para vender o patrimônio do Estado construído com recursos públicos, ou abrir a exploração de recursos minerais do país a “investidores” estrangeiros, na verdade, outros de seus prepostos.

Nisso, mais uma vez, não faltam aliados internos que se associam a esses interesses. FHC abriu a exploração do setor petrolífero às empresas estrangeiras, vendeu a mineradora Vale do Rio Doce a preço de banana. Os atuais governos pós-FHC seguiram com a lógica anti-inflacionária, com algumas diferenças, adotando taxas elevadas de juros, elevação da dívida pública e sua redução com cortes de gastos sociais e de infraestrutura para atender aos credores financeiros, desatendendo, porém, aos credores sociais reconhecidos até pela Constituição Federal.

A tentativa de impeachment, por isso, associa os interesses internacionais a FHC, Serra, PSDB, PMDB e DEM, aos interesses dos que querem mudar o pré-sal, aos que querem seguir com o tripé da economia conservadora (metas anuais de inflação – inflação apenas como fenômeno monetário, câmbio flutuante e superavit primário pró-renda de juros aos capitais aplicados em papéis públicos).

Trata-se de uma estratégia: Usar os escândalos de corrupção atualmente sendo investigados, as atuais taxas de inflação (sem que sejam explicadas), o deficit público e tudo que disso deriva na gestão das finanças públicas (“pedaladas”, decretos orçamentários, etc.) para tomar o país de assalto sem eleições e assim, o que não conseguiram em 2002, 2006, 2010 e 2014, implantarem a nefasta aliança dos interesses internacionais com os mercadores internos, brasileiros antipátria, para usurparem ainda mais as riquezas de nosso país.

Isso não isenta a atual aliança de governo de responsabilidades com a condução da economia, do patrimônio, das finanças e dos investimentos. É por isso que afirmamos: O primeiro passo na atual conjuntura é derrotar o impeachment, o segundo é mudar a política econômica e o papel do Estado como ator público de fomento ao investimento e ao desenvolvimento com soberania, ética e cidadania.

*Professor da UFPE, presidente da Fundação Joaquim Nabuco e ex-deputado federal pelo PDT