Demétrio Andrade: Jornalistas contra o golpe

Por *Demétrio Andrade

Jornalistas cearenses participaram da manifestação do último dia 16

Qualquer manual de jornalismo, ao definir notícia, coloca adiante algumas características básicas: atualidade, veracidade, objetividade, concisão, clareza. Tais linhas estruturais foram pensadas para privilegiar o que comumente chamamos “informação”, numa tentativa de separá-la da “opinião”. Digo tentativa porque o exercício de colocar subjetividade e objetividade em caixinhas separadas é um esforço retórico fadado ao fracasso.

Costumo dizer que objetividade é uma linha no horizonte. Ela pode ser perseguida, nunca alcançada. Por outro lado, o que não se pode admitir é a total perda de equilíbrio entre uma coisa e outra. Deixar-se dominar unicamente pela subjetividade significa produzir um jornalismo especulativo, muitas vezes sem fundo factual comprovado. Isso é péssimo em todos os sentidos. Principalmente se admitirmos possuir a imprensa influência razoável na veiculação de agendas a serem discutidas pela sociedade.

A divulgação de matérias sobre o impeachment, por exemplo, merece um estudo mais apurado – o que não é objeto deste artigo. O País vive um claro momento de insegurança institucional, no qual se vende a ideia de que o impedimento de uma presidenta – sem qualquer motivo claro amparado na Constituição – possa ser realizado deliberadamente, suplantando o resultado de uma eleição reconhecidamente legítima que envolveu milhões de cidadãos.

A profusão de desinformação advinda não só de setores da imprensa, mas também das redes sociais, exige que os profissionais do texto se posicionem politicamente. Desta forma surgiu, aqui no Ceará, o grupo “Jornalistas Contra O Golpe”. Afinal, os produtores de notícias, bem como as empresas do setor, possuem convicções, ideologias, crenças, visões de mundo. Há uma clara disputa pela hegemonia do discurso deste processo. E é preciso interferir de alguma forma.

Não se troca de governo como se troca de roupa. Não se pode desprezar o resultado das urnas, sob pena de colocar em xeque a democracia – que recentemente completou 30 anos e que foi duramente conquistada após duas décadas de ditadura militar – e o estado de direito. A não concordância com um governo, um partido ou mesmo sua questionável condução administrativa não podem ser considerados, por si só, motivos para um afastamento presidencial. Tudo isso é passível sim de críticas, questionamentos, manifestações e demais atitudes que couberem no amplo espectro da chamada liberdade de expressão.

A reprovação e mudança de um governo, se houver, devem ser conduzidas pelo povo, mediante realização de eleições, como manda a regra do jogo. O resto é golpismo, confirmado nas faixas e cartazes de uns poucos incautos, expostas em atos contra a presidenta Dilma e o PT, pedindo, no limite extremado da ignorância histórica, o retorno do regime militar.

*Demétrio Andrade é jornalista


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