O foco do Boletim Focus são os juros altos

De acordo com o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (11) pelo Banco Central, o “mercado” projeta uma inflação de 6,93% e uma contração de 2,99% em 2016 e, nesse cenário, acredita que a taxa de juros subirá 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do Copom.

Por Joana Rozowykwiat

Juros altos

Mas quem é mesmo esse tal “mercado”? A curiosa entidade ouvida pela autoridade monetária não inclui os setores produtivos da economia, tampouco os trabalhadores. A única opinião que conta para o Bacen é a do sistema financeiro.

O relatório Focus é elaborado semanalmente, com base em projeções para os principais indicadores da economia, feitas por cerca de cem representantes de instituições financeiras – que, claro, lucram mais se os juros são mais altos.

Ficam de fora, então, as estimativas da indústria, da agropecuária, do setor de serviços, daqueles que vendem sua força de trabalho e da academia. Quer dizer, agentes responsáveis por atividades que têm impacto real sobre a economia e, mais especificamente, sobre os preços.

O boletim é utilizado como baliza pelo Banco Central para definir a política monetária. Mas, como dito, ele é construído com base apenas nas opiniões das instituições financeiras – que  detêm a imensa maioria dos títulos da dívida. Quando a inflação sobe, o Banco Central argumenta que, para controlar os preços, é preciso subir os juros. Se os juros ficam mais altos, aumenta a rentabilidade dos títulos.

É natural supor que há aí um enorme conflito de interesses e que as análises e recomendações do relatório Focus costumam ser, no mínimo, contaminadas. Nesse sentido, o relatório Focus funciona mais como um mecanismo de especuladores, principais interessados na política de juros altos, que como termômetro das necessidades do país.

Assim, apesar da retração da economia, do processo de desindustrialização e do aumento nos níveis de desemprego, o “mercado” avalia que a Selic – que já está no enorme percentual de 14,25% ao ano – chegará a estratosféricos 14,75%, após a reunião do Copom na semana que vem, e, no final de 2016, atingirá surreais 15,25% ao ano.

Com estes percentuais, perdem todos, exceto os rentistas – sim, esses mesmos que influenciam as decisões do Banco Central. O comércio, a indústria, os trabalhadores, os consumidores de forma geral e o próprio governo são os mais prejudicados por uma nova alta de juros.

Afinal, a Selic em patamares elevados estimula a especulação e desestimula o consumo e o investimento na produção. Reduz a demanda por bens e serviços, desaquecendo a economia. Assim, além de fazer cair a arrecadação do governo, ainda amplia os gastos com juros da dívida – esses que tanto interessam ao tal “mercado” consultado pelo boletim Focus. É como delegar às raposas a missão de tomar conta do galinheiro.

Além disso, as altas na taxa básica de juros não têm tido o efeito pretendido. O economista Marcio Pochmann, por exemplo, destacou, em uma entrevista concedida em outubro, que, em abril de 2013, a Selic estava em 7,25%. E apesar da taxa de juros ter praticamente dobrado até o momento de sua declaração, os índices de inflação também subiram, de 6,6% para 9,5%, no mesmo período.