Protesto denuncia intransigência da Globo e Record com jornalistas

110 pares de sapatos, depositados nesta terça (12) em frente ao sindicato das empresas de rádio e televisão do Estado de São Paulo, na zona oeste da capital paulista, marcaram a mobilização em torno da campanha salarial de jornalistas de rádio e televisão do estado, principalmente das emissoras Globo e Record. 

Por Railídia Carvalho

protesto de jornalistas da globo e record contra proposta de reajuste sapatos - André Freire

A maior parte dos sapatos foram recolhidos por jornalistas das duas emissoras. Segundo a diretora de sindicalização do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, Ana Flavia Marques, está prevista para acontecer nesta quarta (13) uma assembleia de jornalistas em frente a tv Globo, na zona sul da cidade.  

José Eduardo Souza, também da direção do Sindicato dos Jornalistas, falou da pressão que sofrem os jornalistas na hora de defenderem seus direitos. De acordo com ele, o sindicato tem conhecimento que “veladamente” algumas empresas impedem a sindicalização dos profissionais.

“Os donos da mídia cantam a liberdade de expressão mas querem, na verdade, liberdade de empresa e os próprios profissionais, que trabalham nessas empresas, não podem se manifestar em defesa dos seus direitos”, ressaltou José Eduardo.

Ana Flávia Marques lembrou que a liberdade sindical está sempre ameaçada. “No entanto, diante da maior onda de demissão da categoria os jornalistas acharam uma forma criativa de reagir e os sapatos só foram arrecadados porque há uma retomada da mobilização dos jornalistas em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais”, comparou.

Na opinião dela, o protesto foi uma forma de conseguir dar mais volume para uma campanha que aconteceu no primeiro semestre nos veículos impressos da capital e interior e no segundo semestre nos veículos de rádio e tv.

“Buscamos o reajuste de pelo menos 10,97% e a garantia de que se encerre a onda de demissões”, disse.

Lucro das empresas

A data-base dos jornalistas de São Paulo é 1º de dezembro e desde então foram realizadas três reuniões naquele mês e mais uma nesta terça. Todas tem sido marcadas pela intransigência das empresas. A Globo é representada pelo executivo Edmundo Lopes que coordena as negociações em todo o Brasil e oferece 5% de reajuste sem a inclusão de nenhuma cláusula a mais.

“Os jornalistas estão pedindo o reajuste acima da inflação mais 3% de aumento real. Desde o ano passado a categoria tem dado manifestações que promovam o entendimento mas a empresa não quer abrir mão do lucro”, observou José Eduardo.

Está agendada nova reunião para o dia 18 de janeiro onde o sindicato vai insistir na proposta do reajuste acima da inflação. A entidade também quer discutir outras cláusulas como ações de combate ao assédio moral, equipamentos de segurança e licença-maternidade de 180 dias.

“As empresas tratam muito mal o jornalista. É preciso que respeitem a dignidade do profissional que batalha e sofre assédio moral no dia a dia”, defendeu o sindicalista.

Arrecadação de sapatos

A arrecadação de sapatos continua entre os jornalistas. O sindicato está recebendo os sapatos na sede que fica na rua Rego Freitas, 530 , no centro de São Paulo. Na próxima semana a ação dos sapatos será ampliada para as cidades do interior do Estado.

A inspiração do ato dos jornalistas veio do protesto realizado em novembro de 2015 em Paris, quando ativistas impedidos de realizar a marcha pelo clima depositaram cerca de quatro toneladas de sapatos na praça da república. A marcha foi cancelada após os atentados à capital francesa.