Trabuco diz que governo não pode focar apenas no ajuste fiscal

Na contramão da maioria dos operadores, analistas de mercado e jornalistas econômicos, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, disse em reportagem publicada neste domingo (24), no portal Brasil 247, que o governo não pode apenas focar em cima do ajuste fiscal. Ele sugere aumentar a liquidez do sistema bancário, reduzindo compulsório. 

Plataforma de petróleo na costa do Rio de Janeiro

O executivo avaliou que a queda vertiginosa do preço do petróleo no mercado internacional tem e terá um impacto muito mais forte do que a desaceleração chinesa sobre a economia mundial e brasileira.

Trabuco, que constata a falta de demanda, descarta maiores problemas para empresas com dívida em dólar neste ano, mesmo com a alta do câmbio. Segundo ele, houve um alongamento das dívidas por um grande grupo para 2015, 2016 e 2017. “Em 2018, 2019 aumenta o volume", disse o executivo em entrevista à Folha, em Davos, na Suíça, onde acompanhou o Fórum Econômico Mundial.

Para o presidente, a estabilização das Bolsas, dos preços dos ativos e das commodities vai ser no fundo do poço. “Houve uma mudança de patamar, de modelo na China”, afirma. Segundo ele, 2016 vai ser um ano pior, já que a China agora vai comprar menos e a um preço mais baixo. “Na hora do ajuste, isso pode doer mais às suas empresas e ao mundo, pelo peso que a China tem.”

Na opinião dele, o preço do petróleo está tendo e vai ter um impacto muito mais explosivo do que a desaceleração chinesa: “Caiu de US$ 110, US$ 120 para US$ 30. Algumas casas diziam há dias que pode chegar a US$ 20, e aqui ouvi que pode ir a US$ 10. Ouvi em Davos de um ministro de país árabe que pretendem diversificar. Será que eles e a Venezuela terão tempo para diversificar?”

O executivo avalia que o problema do petróleo é o risco de crédito das empresas e dos países de todo o mundo. Para a Petrobras, diz, o problema é ainda maior por conta dos outros problemas que tem.

Trabuco lembra que o mundo sempre teve locomotivas de crescimento, a exemplo da Europa no pós-guerra, EUA e China, mas pondera que “ou o Brasil se transforma na locomotiva de si próprio, trabalha duro para isso, ou vamos continuar patinando.”

O presidente do Bradesco diz ser evidente que o valor dos ativos brasileiros, a confiança que o investidor internacional desenvolveu no Brasil, agora está praticamente em cheque. E que o investidor estrangeiro tem mais de 15% da dívida interna brasileira, “o que é formidável, porque ele acredita nos títulos do Tesouro brasileiro. Então, existe a expectativa de que o Brasil faça a sua lição de casa.”

Trabuco entende que o governo esta num bom caminho: “Acho que o governo estabeleceu uma agenda de entendimento da realidade. A grande expectativa que acho que todos temos é essa agenda de providências que envolvem as reformas em pauta. A da Previdência é essencial. Aliás, os países não fazem "a" reforma, eles vão reformando. O Brasil é um dos poucos países que não estabeleceram idade mínima para a aposentadoria e é muito difícil manter a indexação dos benefícios previdenciários aos trabalhadores na ativa. A economia não se sustenta.”

Questionado se o ministro Nelson Barbosa está no caminho certo, Trabuco responde: “Acho que está. Tem consciência e, pelo que mostrou aqui (em Davos), vai reforçar essa agenda para o Brasil avançar.”