A investigação não vai encontrar uma nódoa em minha vida, rebate Lula

A principal pauta da grande mídia nesta quarta-feira (27) foi vincular a nova Operação da Lava Jato ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, o nome de Lula não é mencionado nas mais de 60 páginas de indícios levantados pela Polícia Federal que serviram como base para a nova operação.

Por Dayane Santos

Lula

Também não é segredo para ninguém que o grupo de “investigadores” instalados em Curitiba atua seletivamente em suas “apurações” com o foco para o ex-presidente. Lula afirmou na semana passada que ele é “o grande prêmio” da delação premiada na Lava Jato, não importando os fatos.

Por meio de nota, o ex-presidente repudiou a tentativa de envolvê-lo na Lava Jato. “Lula foi preso, sim, mas pela ditadura, porque lutava pela democracia no Brasil e pelos direitos dos trabalhadores. Não será investigando um apartamento – que nem mesmo lhe pertence – que vão encontrar uma nódoa em sua vida”, rebateu.

A nota reafirma que Lula nunca escondeu que sua família comprou, a prestações, uma cota de um imóvel no empreendimento, ainda no período em que a Bancoop administrava. “Isso foi declarado ao Fisco e é público desde 2006. Ou seja: pagou dinheiro, não recebeu dinheiro pelo imóvel”, reforça o instituto, que explica que para ter o apartamento seria necessário pagar a diferença entre o valor da cota e o valor do imóvel, com as modificações e acréscimos ao projeto original. “A família do ex-presidente não exerceu esse direito”, disse.

E acrescenta: “Lula não ocultou patrimônio, não recebeu favores, não fez nada ilegal. E continuará lutando em defesa do Brasil, do estado de direito e da Democracia”.

Querem um Fiat Elba

Como bem apontou a nota do ex-presidente, nos últimos 40 anos, nenhum líder brasileiro teve a vida particular e partidária tão vasculhada quanto Lula, e jamais encontraram acusação válida contra ele. Mas tentando a todo custo criar o Fiat Elba, de Collor, a mídia dedica a sua atenção para um apartamento no Edifício Solaris, no Guarujá.

No edifício, o apartamento investigado é o imóvel 163-B, de propriedade de Eliana Pinheiro de Freitas, representante da offshore Murray Holginds LLC, registrada em Nevada, nos Estados Unidos. Há suspeitas que a offshore foi usada para lavar dinheiro a título de propina pela OAS, em troca de benesses junto aos contratos da Petrobras.

Mas quem assistiu a edição do Jornal Nacional desta quarta-feira (27), por exemplo, muito pouco ouviu falar de Eliana. “MP investiga suspeita de que Lula tenha ocultado ser dono de imóvel”, disse a apresentadora do telejornal. E, apesar da Operação Lava Jato ter como alvo o condomínio, mas não investigar Lula, a família Marinho deu um jeito e botou uma matéria com o Ministério Público de São Paulo, e não de Curitiba, que afirma que o ex-presidente teria ocultado ser o dono de um apartamento, fato esse já desmentido pelo próprio Lula.

Usando depoimentos que supostamente teriam sido colhidos pela investigação em São Paulo, a Globo diz que o porteiro, um zelador e até moradores disseram que o imóvel era de Lula, mas todas fontes anônimas.

Os jovens que nasceram depois de 2000 talvez não saibam, mas não é de hoje que a imprensa cria factoides, mentiras e meias verdades contra o ex-presidente. A campanha de demonização começou quando ainda era um sindicalista metalúrgico e prossegue na mídia monopolizada e nas redes sociais, sempre carregada de ódio e preconceito.

Alguns casos marcaram a história, como a notória manipulação de imagens por parte do jornalismo da mesma Rede Globo, no Jornal Nacional, um dia depois do debate do dia 14 de dezembro de 1989 entre os candidatos à Presidência da República, Lula e Fernando Collor de Mello.

Recentemente, José Bonifácio, o Boni, confessou em seu livro que a Globo manipulou o debate para eleger Collor.

"Colocamos as pastas todas ali com supostas denúncias contra Lula, mas estavam vazias", disse Boni. “Eu achei que a briga do Collor com o Lula nos debates estava desigual, porque o Lula era o povo e o Collor era a autoridade. Então nós conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com uma ‘glicerinazinha’ e colocamos as pastas todas que estavam ali com supostas denúncias contra o Lula – mas as pastas estavam inteiramente vazias ou com papéis em branco… Todo aquele debate foi [produzido] – não o conteúdo, o conteúdo era do Collor mesmo –, mas a parte formal nós é que fizemos”, contou.

A farsa da ex-namorada em 1989

Antes disso, porém, foi lançada outra grande mentira durante o segundo turno da campanha presidencial de 1989: Miriam Cordeiro, ex-namorada do então candidato, apareceu no programa eleitoral de seu adversário, Fernando Collor, para acusar o pai de sua filha Lurian de ser racista, abortista e de desprezar a filha.

Na época, Lula conseguiu o direito de resposta pelo TSE e a própria filha, então adolescente, pediu para participar do programa eleitoral para desmentir o circo criado. Mais tarde, a ex-mulher raivosa revelou que fora paga por Collor para caluniar o pai de sua filha.

A aposentadoria por invalidez

Nas redes sociais ainda é possível encontrar post que afirmam que ele receberia uma aposentadoria por invalidez desde que perdeu um dedo em um acidente de trabalho. Esse é um dos boatos mais antigos que circulava desde que ele era dirigente sindical no ABC.

Lula, como todo trabalhador acidentado no país, recebeu uma indenização à época e continuou trabalhando. A legislação trabalhista prevê que quem recebe aposentadoria por invalidez não pode trabalhar e receber salários de qualquer espécie. Com Lula não foi diferente. Se a história fosse verdadeira, ele não poderia ter continuado sua atividade como metalúrgico, depois dirigente sindical e muito menos cumprir seus mandatos de deputado e de presidente da República.

A única diferença desse período para os dias de hoje é que as mentiras e ataques são diários e, agora, atingem também os filhos e netos, que levaram até a criação de um site, Mitos sobre Lula, para desmascarar as injúrias.

A revista Veja, campeã de factoides, chegou a inventar um sobrinho de 3 anos para Lula e também disse que o sobrinho fantasma teve uma festa de aniversário que custou R$ 220 mil, com direito a um I-Pad para cada convidado.

Tudo isso mostra que o modus operandi para mentir é o mesmo usado há mais de 30 anos: ilações, factoides e manipulações. A diferença é que agora as fontes para incriminar são os vizinhos, porteiros, transeunte que passa enquanto a reportagem é produzida, mas com o detalhe: todos anônimos.