Enquanto o financismo prospera, setor produtivo definha

O resultado dos maiores bancos do país para 2015 e um estudo do IBGE sobre a indústria brasileira indicam que há algo muito errado com a economia no Brasil. Enquanto o Itaú Unibanco e o Bradesco lucraram, juntos, mais de R$ 40 bilhões no ano passado, a produção industrial recuou 8,3%. Enquanto o financismo prospera, engordando o bolso de poucos privilegiados, o setor produtivo definha, fazendo com que trabalhadores percam seus empregos e atrasando a retomada do crescimento.

Banqueiros

Em meio à crise, os ganhos do Itaú em 2015 apresentaram um crescimento de 15,4% em relação ao ano anterior. Trata-se do maior lucro da história dos bancos brasileiros de capital aberto, em valores nominais. O recorde anterior também pertencia ao Itaú, que, em 2014, teve resultado positivo de R$ 20,24 bilhões. Já os ganhos do Bradesco avançaram 13,9% no ano que passou.

Na outra ponta, o setor produtivo, que gera empregos e move a economia, não teve muito o que comemorar no período. De acordo com o IBGE, a indústria no país teve a maior queda da série histórica da pesquisa, iniciada em 2003. O pior desempenho até então havia sido em 2009, auge da crise financeira mundial, quando houve recuo de 7,1%.

Dos 26 ramos avaliados pelo IBGE, 25 tiveram retração no calendário completo. A exceção foi a indústria extrativa, que apresentou alta de 3,9%. O setor de veículos automotores, reboques e carrocerias registrou a maior queda, de 25,9%. A produção de itens eletrônicos e ópticos caiu mais, 30%, mas tem peso menor que o de veículos, por isso sua importância é menor no índice geral.

A comparação entre o rentismo e a indústria explicita o equívoco da política monetária praticada pelo Banco Central até então. Manter a taxa de juros em 14,25% – uma das mais altas do mundo – tem significado exatamente isso: ampliar o lucro do rentismo, esmagar a indústria e o setor de serviços, provocando desemprego, queda na renda e na atividade. A Selic em partamares tão altos inibe o investimento no setor produtivo, pois canaliza os recursos para o mercado financeiro, no qual os lucros, afinal, compensam. 

Especialmente para os banqueiros. Na esteira das elevações da Selic, os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos para pessoas físicas – com exceção do crédito imobiliário e rural –, registraram em 2015 o maior aumento anual desde 2011, quando se iniciou a série histórica revisada do Banco Central.  Em dezembro do ano passado, os juros bancários nas operações com as pessoas físicas com recursos livres somaram 63,7% ao ano. Em 2015, houve um aumento de 14,1 pontos percentuais, visto que a taxa média estava em 49,6% ao ano no fechamento de 2014.

Com o aumento dessa taxa, houve o crescimento do chamado spread bancário, que é a diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos e o quanto eles cobram de seus clientes. No fim de 2014, o spread nas operações com pessoas físicas somava 37,3 pontos percentuais, avançando para 48 pontos em dezembro do ano passado. Deste modo, o spread continua em um patamar historicamente elevado. Em 2015, houve um forte aumento de 10,7 pontos percentuais.
 
O cenário fez acender a luz de alerta, e 2016 começa com sinalizações que podem indicar alguma mudança de rumo. Depois de o FMI ter revisado para pior as projeções em relação à economia brasileira, o Banco Central decidiu, na última reunião do Copom, não aumentar ainda mais a Selic. O governo, por sua vez, retomou o diálogo com diversos setores sociais com o objetivo de impulsionar uma agenda com foco no desenvolvimento. Anunciou, inclusive, um pacote de estímulo ao crédito, que fortalece as empresas e ajuda a economia.