Divulgação de despacho sigiloso sobre Lula foi sem querer querendo

O juiz Sérgio Moro, que comanda a Operação Lava Jato a partir de Curitiba, deu mais uma demonstração de que o processo não passa de uma espetacularização midiática. Depois de duas semanas de achincalhe e ilações da grande imprensa, Moro assinou um despacho em que autorizou a Polícia Federal (PF) a instaurar um inquérito para apurar se empresas investigadas na Operação Lava Jato pagaram por obras em um sítio frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Atibaia.

Por Dayane Santos

Sergio Moro - Hugo Harada

Moro oficializou o vazamento seletivo ao publicar o despacho datado do último dia 4 e divulgado no site do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região às 18h22 em plena terça-feira de carnaval (9), que aponta a “intenção da PF” em investigar a relação de empresas como a OAS e Odebrecht, e as obras realizadas no sítio frequentado por Lula. Isso mesmo, frequentado, pois o sítio pertence a amigos da família do ex-presidente.

Oficializou o vazamento seletivo porque o despacho assinado por Moro estabelecia que, a partir daquele momento, toda a investigação correria em segredo de Justiça, incluindo sua própria decisão. Mas nesta quarta (10), Moro divulgou um novo despacho, desta vez para dizer que o conteúdo foi "lançada automática e inadvertidamente" no site do TRF por um equívoco do Poder Judiciário. Como se ele não representasse o Judiciário.

Disse ainda que, ao tornar público e a imprensa ter noticiado, deixou "prejudicado o sigilo" da decisão de desmembrar o inquérito e, portanto, "não faz sentido mantê-lo [o sigilo do despacho inicial]". Ou seja, endossou o vazamento.

Na linha do conhecido “sem querer querendo”, Moro disse que não queria que fosse divulgado, mas como foi e a imprensa noticiou, vai publicar todo o despacho.

Ele disse ainda que a decisão se aplica apenas à divulgação da autorização para que a PF investigue a relação do imóvel localizado em Atibaia (SP).

O despacho veio depois que a imprensa lançou uma série de ilações contra Lula com base em depoimentos do tipo “eu acho” ou “me disseram” que as construtoras OAS e Odebrecht reformaram o sítio frequentado por Lula.

A Globo chegou a publicar no site da sua revista a Época, que Lula visitou, em pouco mais de quatro anos, 111 vezes a propriedade em Atibaia (SP) pertencente aos sócios de um de seus filhos, como isso representasse um crime.

Esse espetáculo de ilações e manipulações era tudo que o grupo da PF de Curitiba queria para tentar justificar o desmembramento dos autos para dar prosseguimento à “apuração”, pois, segundo eles, há indícios de que construtoras pagaram para reformar a propriedade.

O Instituto Lula informou que o ex-presidente e Dona Marisa frequentam o sítio em momentos de folga, a convite dos donos, que são amigos da família. Em nota, o instituto disse haver uma tentativa de associar Lula a supostos atos ilícitos para "macular a imagem do ex-presidente".