Macri e seu bônus neoliberal

Mil por cento de rentabilidade, esta é a versão plus do neoliberalismo, é o que Mauricio Macri propõe ao mundo contra o povo argentino. Um grande chamado ao capital financeiro. A oferta é irrecusável. O neoliberalismo conseguiu superar a taxa de lucro do capitalismo industrial graças à financeirização da economia; além disso, sem necessidade de entrar em combate com os trabalhadores.

Por Alfreto Serrano Mancilla, no Celag

Mauricio Macri - Telesur

Um verdadeiro sonho para o capital privado: ganhar muito sem obrigações trabalhistas, sem base material equivalente. O neoliberalismo forjou assim um novo mundo econômico: especulativo, improdutivo e ocioso.

Passada uma década, chega Macri e o resgata, o enlaça novamente. E pior, o coloca como protagonista no topo da nova pirâmide econômica da Argentina. Uma nova estrutura é construída para o capital financeiro internacional. O presidente precisou de apenas cinco dias em Nova York para negociar o pagamento com os fundos abutres: Montreux Partners e Dart Management. O principal abutre de todos ainda não deu seu braço a torcer, Elliott Management, de Paul Singer, quer mais. Veremos. Macri sempre pode ser mais generoso com o capital, o povo argentino é outra coisa.

Diante de tanta generosidade, o normal seria a adesão total das partes em litígio com as sentenças favoráveis do juiz norte-americano Griesa. Isso significaria quase 7 bilhões de dólares em dinheiro que o Estado argentino deveria enviar de seus cofres públicos. Se somamos isso aos outros acordos financeiros com lobistas italianos, o total desembolsado iria para mais de 8 bilhões de dólares. O que vai para um não pode ir para o outro, lição orçamentária básica. Macri advoga pela reciprocidade: apostar naqueles que apostaram nele. Não há nenhuma possibilidade de destinar estes recursos à edução pública, aos programas sociais de moradia, às políticas de ciência e tecnologia, à reindustrialização. O neoliberalismo de Macri não entende nada de economia real.
Não há mágica nesta equação de economia política. A resposta está na dívida externo, ou melhor dizendo, na dívida interna. Se paga para ter acesso ao mercado financeiro internacional, mas precisa ir ao mercado financeiro internacional para pagar. É um grande círculo vicioso neoliberal.

Macri, em pouquíssimo tempo, começou a demonstrar grandes dotes para se submeter a este carrossel, e o fez desde seus primeiros passos como presidente. Prometeu que havia dólares para todos, mas que era necessário sair para buscá-los fora porque dentro é melhor deixar os donos do campo tranquilos para fazerem o que quiserem com os dólares: que liquidem quando melhor lhes convenha, que desvalorizem se lhes parecer bom. A saída neoliberal é sempre a mesma, a que vem de fora. Logo, se foi em turnê pedir dólares emprestado aos grandes bancos privados internacionais (JP Morgan, Deutsche Bank, Citibank, HSBC, Goldman Sachs). Porém, não conquistou tanto quanto gostaria, teve que, por ora, recorrer a quem tanto criticava anteriormente: a conversão com a China (pouco mais de 3 milhões de dólares). Mas em vez de usar estes recursos para o desenvolvimento interno, tal como estava previsto, se dedicou a isso que chamam de “liberalização” no acesso ao dólar. Outro paradoxo. Um mais. Liberar dentro para buscar fora. Outra festa que custará caro ao povo argentino: mais dívida externa, mais dívida interna.

Macri deseja se consolidara como o novo campeão da new age neoliberal. Confia que logo receberá algum Prêmio Nobel de Economia, ou da Paz. Qualquer um sabe. Por ora o FMI já reconheceu seus esforços. Não é para menos: recorte no setor público, tarifaço na conta de energia elétrica, logo chega um para o gás. A desvalorização está em curso, primeiro a de câmbio, logo a salarial.

Macri não deveria falar mais da mão invisível do mercado. Seu neoliberalismo plus é bastante nítido.