Movimento negro leva apoio a Lula e debate políticas de igualdade

Nesta terça-feira (23), representantes do movimento negro se reuniram com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Instituto Lula, em São Paulo. A reunião serviu para debater os avanços dos últimos 12 anos e o futuro das políticas raciais brasileiras. Além de membros do movimento negro organizado, participaram quilombolas, acadêmicos, agricultores, deputados, e representantes dos movimentos sindical, social, estudantil e da cultura.

Ex-Presidente Lula em encontro com lideranças do movimento negro - Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

A pauta consistiu da apresentação de três documentos cujo propósito é unificar as diversas demandas do movimento negro. Lula recebeu a proposta do 4°Festival Mundial de Artes Negras no Brasil-Diáspora, a ser realizado em 2017, o documento “Convergências da Luta de Combate ao Racismo no Brasil”, elaborado por lideranças do movimento negro durante o Fórum Social Temático de Porto Alegre, em 2016, e a “Carta das Mulheres Negras 2015”. Além disso, os presentes manifestaram solidariedade a Lula frente aos ataques de parte da imprensa e das autoridades.

Celso Marcondes, diretor do Instituto, explicou que a principal ideia da reunião era ouvir os presentes e conversar sobre as os próximos passos, para consolidar e ampliar o que foi conquistado. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu aos convidados que falassem não apenas sobre as conquistas, mas principalmente sobre o que ainda falta fazer.

A Seppir (Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial), criada em 2003, durante o governo Lula, foi citada como exemplo de realização positiva, assim como o Prouni, que garantiu a uma parcela dos jovens negros o acesso à educação superior. “Temos que dar um passo mais forte”, afirmou a ministra-chefe da Seppir, Nilma Lino Gomes. “Não podemos aceitar a convivência com o fenômeno do racismo, é preciso superar esse fenômeno”, completou.

Gilberto Leal, diretor da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), disse que o Brasil é exemplo em políticas para a população negra, "mas ainda temos muitos desafios". Citou o projeto de redução da maioridade penal, a reforma política e as abordagens policiais como problemas a serem enfrentados pelo movimento negro e pela sociedade brasileira. Flávio Jorge, também diretor do Conen disse que está acontecendo “um ataque a um projeto político que deu certo”. O momento, afirmou, “é de apoio e afeto a Lula”. 

Benedita da Silva, deputada federal pelo PT do Rio de Janeiro e ex-ministra do Desenvolvimento Social, afirmou: “Temos que defender esse projeto [iniciado no governo Lula] porque ele é majoritário”. “Nós temos que ter uma estratégia de ocupação desse espaço político”, complementou.

Para Edson França, presidente Nacional da União de Negros pela Igualdade (Unegro), trata-se de “um ataque a um legado político que tem tirado o país da subserviência”. Nuno Coelho, integrante do Conselho Nacional de Políticas de Igualdade Racial, falando sobre os mandatos de Lula, disse que “mais do que falar”, o ex-presidente “incorporou e executou” as demandas do movimento negro.

“O Brasil é um país conservador e o conservadorismo não quer que a gente continue avançando”, disse Djamila Ribeiro filósofa e colunista da CartaCapital. Ela definiu os ataques como “ilegítimos”, e afirmou que “não podemos ficar calados num momento como esse”.

Nilma Lino Gomes, ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, disse que “várias das lutas do movimento negro viraram políticas públicas” durante os governos de Lula e Dilma. “O fato de ser um momento difícil não significa que temos de perder a esperança”, alertou a ministra.

O ex-presidente Lula agradeceu às manifestações de solidariedade, mas pediu para que os presentes não se preocupassem: “Sou muito calejado”. “Nunca tive sossego. Eu era acusado de andar de primeira classe quando nunca tinha entrado num avião. Eu jamais faria uma coisa errada, ainda mais porque isso seria trair quem me levou aonde cheguei, que é a classe trabalhadora”, afirmou. Referindo-se às políticas públicas que permitiram a entrada dos jovens negros e pobres nas universidades, afirmou: “O que fizemos em 10 anos não tinha sido feito em 500 anos de história. É tudo? Não. É apenas o começo”.

O ex-presidente Lula relembrou conquistas recentes, como a criação de universidades federais, a ampliação do acesso ao ensino superior e afirmou que é "momento de repactuar". 

Lula incentivou os movimentos a seguirem em diálogo na construção de uma pauta comum de reivindicações e disse: "Essa não foi a nossa última reunião", sugerindo que o tema volte a ser discutido em breve.