Sicsú propõe resgatar estratégias do governo Lula para enfrentar crise

Em sua página no Facebook, o economista João Sicsú listou, nos últimos dias, uma série de medidas que ele considera urgentes e necessárias para enfrentar as turbulências que o país atravessa. Ao comparar o cenário atual com o da crise de 2009, ele defendeu retomar estratégias adotadas durante os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

João Sicsú

Para Sicsú, é necessário reduzir fortemente a taxa de juros básica da economia, para que isso possibilite uma folga orçamentária para o governo. Ele lembra que, na crise de 2009, o então presidente Lula reduziu a Selic em cinco pontos percentuais, levando-a de 13,75% ao ano para 8,75%.

“A consequência foi que as despesas públicas com o pagamento de juros somente subiram R$ 6,8 bilhões naquele ano em relação ao ano anterior. Diferentemente, no ano de 2015, os juros Selic, que já eram altos, subiram de 12,25% para 14,25% – e o acréscimo de despesas de juros foi R$ 190 bilhões de 2014 para 2015”, comparou.

Em outra postagem na rede social, ele defendeu que o governo rompa com o modelo que pressupõe economia para pagar juros da dívida pública. Segundo ele, a gestão deveria decidir e assumir publicamente que fará um déficit nominal programado nas contas públicas, de maneira a utilizar esses recursos para fazer políticas para combater o desemprego.

“Tais políticas devem reintroduzir no modelo o lema da Era Lula: crescimento com geração de empregos, inclusão social e distribuição de renda”, escreveu. Sicsú confrontou os dados: em 2009, o governo mais que dobrou o seu déficit nominal de 1,53% para 3,34% do PIB. Já no ano passado, houve um déficit nominal bem mais significativo, de 10,34% do PIB – além do que já tinha ocorrido em 2014, de 6,05% do PIB.

Mas, apontou o economista, o governo “utilizou quase todo esse endividamento adicional para pagar juros da dívida pública já que a taxa Selic é muito alta. A recessão de 2015 está em torno de 4%. A contração de 2009 foi apenas de 0,2%”, cotejou.

A partir da folga no orçamento decorrente dessa redução da Selic e do déficit nominal programado, Sicsú sugeriu que sejam ampliados os gastos sociais. “Políticas sociais devem fazer com que recursos públicos cheguem nas mãos de quem gasta tudo o que recebe (os pobres e trabalhadores de baixa renda). Eles são agentes dinamizadores da economia porque gastam absolutamente tudo o que recebem antes do mês terminar Isso gera renda e empregos no comércio, na distribuição e na produção”, apontou.

De acordo com os dados reunidos pelo economista, em 2009, os gastos públicos per capita nas áreas sociais cresceram 10%. Já em 2015, na esteira do ajuste, houve corte em diversas áreas, a exemplo de programas como seguro-desemprego, Prouni e abono salarial. “É uma medida urgente aumentar drasticamente o valor do Bolsa-família, mas ainda não seria suficiente, outros programas de transferência de renda deveriam ser inventados para vigorar durante a crise e para alcançar, principalmente, a juventude pobre e desempregada”, defendeu.

Por fim, Sicsú defendeu revisitar J.M.Keynes – segundo ele, o mais profundo pensador acerca do funcionamento do capitalismo – e sugeriu que o governo faça políticas de pequenas e médias obras, tais como calçamento, construção de praças e reformas e construção de habitações populares.

“A construção civil é intensiva em trabalho, e obras de pequeno e médio porte podem se espalhar por cada cidade, cada localidade, cada comunidade – obras de grande porte demoram muito tempo para serem iniciadas e concentram espacialmente o emprego”, avaliou.

Lembrando ainda que, em 2009, o país criou 1,8 milhão de empregos formais e, em 2015, fechou 1,5 milhão, ele analisou que é obrigatório lançar um Minha Casa Minha Vida do campo e das cidades em uma articulação com os movimentos sociais organizados.

Sicsú – que nas primeiras mensagens havia escrito estar “procurando um milagre”, no campo do Facebook para que o usuário diga como está sentindo – encerrou a série de posts sobre medidas necessárias e urgentes dizendo-se “confiante”.