Lula não se intimida: “Bateram no rabo da jararaca, não na cabeça”

Ao lado de lideranças políticas e sociais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento à imprensa nesta sexta-feira (4), na sede do diretório nacional do PT, em que manifestou a sua indignação ao que chamou de “falta de respeito ao direito” e “autoritarismo do judiciário”, mas avisou: “Se queriam matar a jararaca, não conseguiram. Bateram no rabo, não na cabeça”.

Por Dayane Santos

Lula pronunciamento sobre Lava Jato - Roberto Parizotti

“Hoje é o dia da indignação, da falta de respeito e do autoritarismo do Judiciário”, disse Lula que foi alvo da 24ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta sexta. Além do depoimento, foi realizada busca a apreensão em sua casa e na sede do Instituto Lula, entre outras ações. A operação foi lançada sob o frágil argumento de que as palestras feitas pelos ex-presidente foram em sua maioria pagas por empresas investigadas pela Lava Jato.

Lula desmontou o factoide dos procuradores. Chamado pelo presidente norte-americano Barack Obama de “o cara”, Lula é reconhecido em todo o mundo pela gestão que promoveu a inclusão social do Brasil e tirou milhões de brasileiros da miséria.

“Ninguém queria que eu discutisse sexo dos anjos. As pessoas queriam que o Lula falasse das coisas que fez no Brasil. Que milagre fez para aprovar o Prouni, o Fies, para levar energia a 15 milhões de pobres nesse país… Por isso me transformei no conferencista mais caro do mundo junto com o Bill Clinton… Não tenho complexo de vira-lata. Eu sei o que fiz pelo país”, disse.

Ele também repeliu as ilações sobre o sítio em Atibaia e o apartamento em Guarujá. Ele citou um barco comprado pela sua esposa, Marisa Letícia, e os pedalinhos em um sítio em Atibaia.

“Uso a chácara de um amigo porque os inimigos não me oferecem. Se quiserem me emprestar, aceito. Se a Globo me oferecer o tríplex em Paraty eu vou. Se me oferecerem o apartamento em Paris ou Nova Iorque eu vou”, disse. E completou: "Eles dizem que o apartamento [Guarujá] é meu, mas não é. Eu quero saber quem é que vai me dar esse apartamento quando esse processo terminar porque o apartamento não é meu", afirmou.

Sobre os pedalinhos no sítio, Lula ironizou: "Se preocupam com pedalinho que ela [Marisa] comprou por R$ 2 mil para os netos? Se pudesse eu dava um iate para ela".

O ex-presidente demonstrou que apesar da tristeza, a atuação do consórcio direitista não lhe tirou o ímpeto de continuar lutando pelo Brasil. “Fiquei indignado com esse processo de suspeição. Se a PF encontrar um real de desvio na minha conduta, eu não mereço fazer parte deste partido… Não vou abaixar a cabeça. O que fizeram com esse ato hoje foi fazer que, a partir da semana que vem eu estarei disposto a percorrer esse país”.

Ainda sobre a operação, Lula chamou a operação desta sexta de “espetáculo”. “Não precisava ter mandado coerção na minha casa hoje de manhã, na casa dos meus filhos. Mas lamentavelmente eles preferiram utilizar a prepotência, a arrogância, e fizeram um show, um espetáculo de pirotecnia. É lamentável que uma parcela do MP esteja trabalhando em associação com a imprensa", disse Lula.

Ele salientou que os vazamentos evidenciam a relação da operação com a imprensa, ferindo o direito de defesa e o Estado Democrático de Direito. “Enquanto os advogados não sabiam nada, alguns meios de comunicação já sabiam. É lamentável que uma parcela do poder Judiciário brasileiro esteja trabalhando em associação com a imprensa… Antigamente você tinha a denúncia de um crime, ia investigar se existia e prender o criminoso. Hoje a primeira coisa que se faz é determinar quem é o criminoso”.

Lula disse ainda que sempre manifestou sua disposição em atender as solicitações dos investigadores. Destacou que chegou a depor por seis horas respondendo pacientemente as mesmas perguntas. Ele também manifestou sua indignação com a violência cometida contra sua família e pediu perdão aos parentes.

“Queria pedir desculpas a Marisa e meus filhos pelos transtornos que eles passaram. Não há nenhuma explicação de irem atrás dos meus filhos a não ser o fato de eles serem meus filhos’”, repeliu.

Segundo o ex-presidente, o fundamento dessas ações está longe de uma investigação para apurar possíveis ilícitos, pois a principal motivação dessas operações é o inconformismo com a vitória da presidenta Dilma Rousseff em 2014.

“Deixei a Presidência e achei que tinha cumprido com a minha tarefa. Ao eleger a Dilma achei que tinha consagrado minha tarefa. Mas desde o dia 26 de outubro de 2014 não permitem que a Dilma governe esse país”, frisou.

Lula defendeu que o país não pode ficar “amedrontado e reafirmou: "Eu sou um homem que acredito em instituições de Estado forte. Estado forte é a garantia do estado democrático. E desde a Constituinte briguei para ter um Ministério Público forte. Mas é importante que os procuradores saibam que uma instituição forte tem que ter pessoas responsáveis".