Manuela D'Ávila coloca bloco na rua contra tabu da amamentação

A Organização Mundial de Saúde recomenda que, até os seis meses de idade, bebês sejam alimentados exclusivamente pelo leite materno. Mas, em pleno ano de 2016, mães ainda são hostilizadas – ou até assediadas – quando amamentam seus filhos em público. Alvo de críticas descabidas, no ano passado, por ter postado em rede social uma foto dando de mamar à sua filha, a deputada Manuela D’Avila (PCdoB-RS) resolveu literalmente colocar o bloco na rua contra mais esse tabu que paira sobre a maternidade.

Em entrevista ao Sul21, a deputada estadual (PCdoB), Manuela d’Ávila - Foto: Caroline Ferraz/Sul21

No último sábado (6), tiveram início as apresentações do bloco de carnaval "Mamãe eu quero mamar (no peito)", idealizado pela parlamentar, com o objetivo de divulgar de forma divertida os benefícios da amamentação e estimular as mães a exercerem o direito de alimentarem seus bebês onde e quando quiserem. O evento continua nos dias 13 e 20 de março, em vários bairros de Porto Alegre.

O bloco possui até marchinha, uma paródia da tradicional “Mamãe eu quero mamar”, que, na nova versão, agora diz: "Mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar. Eu quero o peito, não a chupeta. Faço careta se você me negar. Se minha mãe me dá de mamar, é porque me ama e não quer me ver chorar. Amamentar é um direito da mulher e eu tenho direito de mamar onde eu quiser”.

No Rio Grande do Sul, esse direito é assegurado por lei, graças à aprovação de um projeto de autoria de Manuela e do também deputado Fernando Mainardi (PT). As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro também têm legislações semelhantes. As normas regulamentam o que deveria ser natural, isto é, garante às mulheres o direito de darem de mamar em locais públicos ou privados, prevendo multa caso a lei seja descumprida.

E, apesar de tais leis em princípio parecerem desnecessárias, relatos mostram que, assim como Manuela foi criticada por publicizar o momento da amamentação, várias mães são repreendidas quando decidem alimentar seus filhos em locais públicos. O constrangimento à mãe que dá o peito para o seu filho se alimentar, além de absurdo, soa hipócrita quando novelas, propagandas e programas de auditório exibem mulheres seminuas em horário nobre, na televisão aberta brasileira.

Uma das críticas feitas a Manuela, na época em que divulgou a foto amamentando sua filha, dizia tratar-se de uma “exposição desnecessária da mama de uma deputada”. No mesmo comentário na foto no Facebook, a pessoa afirmou, escancarando o machismo: “Depois reclamam de assedio e falta de respeito”.

Manuela, prontamente respondeu. “Esse peito não é de deputada, é da mãe da Laura. Amamento onde quiser, o peito é meu (e dela, por esse período). Amamento até na Capela Sistina, com a bênção do meu papa Francisco”, disse, defendendo o gesto de alimentar sua filha, que também serve para aumentar o vínculo entre mãe e bebê e que nada tem de feio ou obceno, para ser confinado a um espaço privado.

Em entrevista posterior, a deputada apontou o que está por trás da crítica. “É sempre assim, se eu não amamentasse eles iriam cobrar o direito da bebê. Se amamento, estou expondo. Na verdade, eles não se conformam com mulheres ocupando espaços de poder”.

No fundo, a luta de mães pelo direito de amamentar seus bebês em qualquer lugar passa pela questão da desigualdade de gênero e por bandeiras antigas do movimento de mulheres. No Brasil, apesar da recomendação para que os rebentos se alimentem de leite materno por seis meses, a licença maternidade obrigatória é de apenas quatro, por exemplo. Isso para aquelas que possuem carteira assinada.

De acordo com dados da Unicef e da Organização Mundial da Saúde, divulgados em nota no ano passado, apenas 38% das crianças em todo o mundo são exclusivamente amamentadas, até mesmo durante os recomendáveis primeiros seis meses de vida.

Paralelamente, um estudo recente descobriu que bebês que foram amamentados por pelo menos um ano ficaram mais tempo na escola, tiveram maior pontuação em testes de inteligência e ganham mais quando adultos do que aquelas que foram amamentadas por apenas um mês.

No Brasil, um estudo publicado pela revista científica Lancet e divulgado na última quarta (2) ponta que aumentou em cerca de 20 vezes o número de bebês de até 6 meses que são amamentados exclusivamente. No entanto, 61% das crianças de até 6 meses ainda não são alimentadas apenas com o leite da mãe. Os dados mais atuais sobre o tema, no país, são ainda de 2006.

Mães empoderadas

Engajada na luta pelos direitos da mulher e das crianças, Manuela criou em fevereiro a “Frente Parlamentar Mães Empoderadas, Primeira Infância Respeitada” na assembleia gaúcha. A iniciativa que deve ser lançada no dia 14 de março, em Porto Alegre. A meta da frente é criar uma rede estadual pela primeira infância e uma carta compromisso sobre o assunto.

A deputada também é autora do projeto de lei que autoriza a entrada de doulas, quando solicitada pela mãe, para acompanhar o parto (além do acompanhante, o que já é garantido por lei). Confira abaixo as datas, horários e locais das próximas apresentações do bloco “Mamãe eu quero mamar (no peito)”, em Porto Alegre.

Serviço:
Dia 13 de março
15h- Saída do Bloco "Mamãe eu quero mamar (no peito)"
Local: Esquina da República com a João Alfredo (Cidade Baixa)

Dia 20 de março
16h- Participação do bloco em festa da Imperatriz Leopoldinense