“Alguns acham que foi covardia, acho que foi coragem”, diz professor

Para cientista político, Giorgio Romano Schutte, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), a nomeação de Lula à Casa Civil é positiva, embora muito arriscada. “Tudo isso mostra que eles estão com medo.”

Giorgio Romano Schutte, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC

“Estou desde 1990 no Brasil e nunca vi tanta agressividade”, diz o professor nascido na Holanda. Para ele, a “jogada” que culminou com a ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ministério de Dilma Rousseff é muito arriscada, mas positiva. “O governo Dilma precisava de alguma novidade. Ela e o PT de certa forma saíram da defensiva. Só que esse é um lance altamente arriscado, porque agora Dilma e Lula estão jogando tudo ou nada”, diz.

Ele não concorda com a reação negativa de uma parcela da população que, num primeiro momento, considera a atitude do ex-presidente de aceitar a pasta uma fuga da Justiça. “Acham que foi covardia de Lula. Acho o contrário. É um ato de coragem fazer essa jogada.”

O professor faz uma analogia com o futebol para demonstrar o risco. Na Copa do Mundo de 2014 no Brasil, o técnico da Holanda, Louis van Gaal, substituiu o goleiro titular Cilessen, na decisão das quartas de final contra a Costa Rica, e colocou em seu lugar o reserva Krul na decisão por pênaltis. O reserva, que não havia jogado nem um minuto na competição, pegou dois pênaltis e levou a Holanda às semifinais, batendo os rivais por 4 a 3.

“É mais ou menos a mesma coisa. É extremamente perigoso, porque é tudo ou nada. Mas a bola está com Lula e com Dilma. Isso é positivo porque estavam muito na defensiva. Lula não podia ficar no apartamento dele com alguns militantes em São Bernardo e esperar um juiz e um promotor o colocarem de novo numa situação constrangedora”, diz Schutte.

Para ele, se o governo, a partir de agora, conseguir neutralizar politicamente “a onda do impeachment”, criar uma certa tranquilidade, promovendo ações que possam dar novamente credibilidade à base social que votou em Dilma, e depois criar uma perspectiva de geração de emprego e renda, os riscos da “jogada”, como aquela arriscada por van Gaal, terá sido vitoriosa.

Mas não vai ser fácil, avalia. “Tudo trabalha contra. Estou desde 1990 no Brasil, não peguei a eleição de Collor, mas nunca vi tanta agressividade o tempo todo.” Mesmo assim, o professor acredita que a possibilidade de a ida de Lula ao ministério ser bem-sucedida está causando muito temor na oposição. “Eles estão com medo que dê certo. A agressividade de Fernando Henrique, que chamou Lula de analfabeto, a reação forte da justiça, tudo isso mostra que eles estão com medo.”

Em evento para empresários realizado ontem (16) por uma empresa seguradora, FHC demonstrou indignação com a decisão de Lula de ocupar o ministério da Casa Civil. “Tem que ter cabeça nova, não é só ser político, é preciso conhecimento. Conhecimento é fundamental. Você não pode dirigir esse país sendo analfabeto. Não dá”, afirmou o tucano.