Antonio Carlos Campelo C. Júnior: Falta leitura da História!

Por * Antonio Carlos Campelo C. Júnior

Heil Hitler

Um golpe cuidadosamente preparado pelos nazistas para além de destruir o parlamento alemão, o Reichstag e incriminar os comunistas por sua destruição, acabou lhes rendendo, nas eleições que se realizaram em seguida, no ano de 1933, 17 milhões de votos.

O mundo inteiro via naquilo tudo uma farsa fascista para tomar o poder. Só os alemães pareciam não querer ver. Há exatamente 86 anos terminava em chamas a liberdade alemã. Hitler havia compreendido, depois do fracassado "putsch" de Munique, 10 anos antes que, "num estado moderno, as verdadeiras ‘revoluções’, (leia-se golpe), se fazem com e não contra o estado", como ele mesmo afirmou.

Para dar o golpe era preciso, a todo custo, que um acontecimento rápido, inesperado e de intenso clamor, abalasse os hesitantes alemães e os levasse ao ódio tanto do estado democrático, como dos comunistas e outros "inimigos da pátria".

A responsabilidade do incêndio criminoso recaiu sobre um holandês, pedreiro de profissão, chamado Van Der Lubbe, que após um acidente no trabalho, anos antes, tinha apenas 25% da visão. A versão oficial do incêndio afirmou que um homem quase cego tocou fogo sozinho no parlamento. A rádio oficial interrompe a programação e noticia: "O Reichstag esta em chamas. Foi incendiado pelos comunistas".

Isso é apenas o começo de uma sórdida e grotesca encenação. São convocados "testemunhas oculares" que só reforçam a linha de acusação desejada pelos nazistas. Uma farsa que, posta em prática num país livre, com uma polícia e uma magistratura independentes, não sobreviveria um único dia.

Em decorrência do incêndio, Hitler obtém de Hindenburg o "decreto para o bem do povo e do estado". O decreto rasgava a constituição de Weimar, restringia a liberdade pessoal, de imprensa e de reunião. Autorizava a violação do segredo postal, telegráfico e telefônico e revogava o instrumento do habeas corpus. A polícia era autorizada a levar coercitivamente e preso qualquer pessoa sem motivo plausível, apenas pela acusação baseada na tese do "domínio de fato".

Enquanto isso o rádio, maior instrumento de comunicação da época criava seus factóides, e alimentava a farsa. No dia 1 de abril de 1933, para dar um caráter conspiratório internacional, montada pelos nazistas e com o apoio da mídia, fornece os nomes dos "cúmplices" de Lubbe. Foram incriminados arbitrariamente três búlgaros e um alemão: Dimitrov, Popov, Tanev e Torgler. Os acusados são privados até de escolher seu defensor. São levados a cidade de Leipzig, apresentados à Corte Suprema, que possuía cinco juízes membros do colegiado, presidido pelo Dr. Willhelm Bünger. Esse morreu três anos depois de remorso e consumido pelo desprezo de si mesmo, pela farsa no julgamento.

A história retrata a batalha, a desmoralização e o vexame público que o acusado Dimitrov, defendendo-se sozinho, e motivado pela inocência, aplica aos juízes, procuradores e ao Ministro do Interior Nazista e chefe da S.A., Goering. O acusado se torna o acusador e, por falta de provas, os quatro acusados são libertados e Lubbe condenado.

Sabemos para onde esta farsa nos levou. Vitória nas eleições, início do regime autoritário do III Reich, perseguições, mortes e assassinatos de todos que se opunham, começando pelos comunistas e intelectuais, em seguida os liberais, depois os judeus, as minorias étnicas como os ciganos, negros, mulheres e o grande evento para garantir o "espaço vital". A segunda grande guerra e seus 60 milhões de mortos.

Alguém vê alguma semelhança e sinais de autoritarismo com o cenário atual brasileiro?

*Antonio Carlos Campelo Costa Junior é mestrando em Administração e Secretário Executivo de Esporte e Lazer de Fortaleza.

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