Dias 13 e 18: quem venceu esse round?
Voltando à comparação “dos números”, tomo emprestado um verso do poeta, cantor e compositor Itamar Correa, que na canção “Xambioá” (uma homenagem ao Divino, seu amigo de infância que tombou na “Guerrilha do Araguaia”), assim “poetizava”: “Ah! foi por lá, Onde o povo sofreu pra conta, Como um jovem sozinho, Valia por trinta, Em qualquer lugar!”.
Publicado 21/03/2016 08:41 | Editado 04/03/2020 16:48
· Miranda Muniz
Nos dias 13 e 18 de março, assistimos a mais um momento ímpar da democracia brasileira, com centenas de milhares de pessoas saindo às ruas e manifestando, grosso modo, contra e a favor do governo.
Digo “grosso modo”, pois numa sintonia fina podemos constatar aspectos fundamentais que distingue os dois movimentos e que vão muito além de serem “contra” ou “a favor”.
Começamos pelo número de manifestantes. Mesmo com os dados dissonantes de quem se atreveu fazer “a contagem” (estimativa), o dia 13 levou vantagem aparente, levando-se em conta apenas os “números frios”.
Aprofundando a análise, constata-se facilmente que no dia 13 predominou a “dispersão”, onde cada grupelho levantava uma reivindicação específica (desde a volta da Ditadura, passando por posições homofobia, machistas, e outras “pérolas”) e até antagônicas. Já na manifestação realizada no dia 18 prevaleceu a unidade, tanto de ação como de propósitos (defesa da democracia, apoio ao ex-presidente Lula, Fora Cunha, mudanças na política econômica com garantia aos direitos dos trabalhadores, das mulheres, negros, índios, LGBTs, juventude, etc.).
No ato do dia 13, com um viés fascistoide e de “despolitização”, lideranças da oposição (como o candidato derrotado Aécio Neves, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, Paulinho da Farsa, a camaleoa Marta Suplici, entre outros), que haviam convocado o próprio ato, foram literalmente enxotadas da Avenida Paulista sob gritos ensandecidos de “bundões”, “safados”, “ladrão de merenda”, “filhos da p…”, e outros impropérios impublicáveis.
Já no ato do dia 18, lideranças políticas do PT, PCdoB, PDT, PSOL e de outras organizações do movimento social e popular, foram recepcionadas sem qualquer animosidade. O ex-presidente Lula foi recebido no grande ato ocorrido na Avenida Paulista (SP) sob o grito uníssono de “Lula Guerreiro, do Povo Brasileiro!), e discursou para a multidão por quase meia hora, sendo interrompido várias vezes com aplausos.
Outra constatação que reputo importante nesse período de acirramento de ânimos, foi a ocorrência de uma série da ações fascistas, antidemocrática e de vandalismo foram perpetradas contra sedes do PT (aqui mesmo em Cuiabá a sede do PT foi pichada), do PCdoB, da CUT, da UNE, entre outros. Agressões verbais e físicas ocorreram contra diversas pessoas nas manifestações do dia 13, pelo simples fato de “aparentarem serem petistas ou comunista”. Um caso emblemático foi o da jovem Isadora e seu namorado, os quais foram agredidos na Paulista por passearem numa bicicleta vermelha e, segundo os agressores, “por terem cara de petista”.
Seria irresponsabilidade rotular todos que engrossaram o “Fora Dilma”, de intolerantes e fascistas. Mas, se está correto o governador do Maranhão, Flávio Dino, em dizer que o “gênio do fascismo saiu da garrafa”, também é correto afirmar que é no seio das manifestações de caráter golpista que “esse gênio” (da intolerância e do fascismo) tem encontrado o caldo de cultura ideal para se desenvolver e realizar suas peripécias.
Por outro lado, destaco o tratamento diametralmente oposto que os meios de comunicação hegemônicos deram aos dois eventos. No primeiro, agiram como verdadeiros “promotores” dos atos anti-governo, com direito à conclamação para “irem às ruas” e uma cobertura “ao vivo e à cores” ininterrupta ao longo do dia . No segundo, praticamente negaram espaços para os defensores da Democracia e dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Isso foi tão evidenciado que até mesmo a atriz global Leandra Leal tuitou indignada: “GloboNews, estou trabalhando e assim como domingo e ontem, queria acompanhar as manifestações, cadê a cobertura ao vivo?”
Isso sem contar o poderio econômico dispensado aos promotores dos atos do dia 13, até mesmo com direito a filé mignon na sede da poderosa FIESPE, a qual se transformou em um verdadeiro Quartel General dos golpistas.
Voltando à comparação “dos números”, tomo emprestado um verso do poeta, cantor e compositor Itamar Correa, que na canção “Xambioá” (uma homenagem ao Divino, seu amigo de infância que tombou na “Guerrilha do Araguaia”), assim “poetizava”: “Ah! foi por lá, Onde o povo sofreu pra conta, Como um jovem sozinho, Valia por trinta, Em qualquer lugar!”.
Mas, que foi mesmo que venceu?? Que o leitor/leitora sinta-se na mais plena liberdade para fazer ou refazer suas contas!
Miranda Muniz – agrônomo, bacharel em direito, oficial de justiça-avaliador federal, dirigente da CTB/MT e presidente do PCdoB de Cuiabá-MT.