Em visita à Argentina Obama oferece apoio para “transição histórica”

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, começou sua agenda oficial na Argentina nesta quarta-feira (23) em uma reunião com seu homólogo argentino, Maurício Macri e outros representantes de governo da Casa Rosada. Em seguida, os dois presidentes concederam uma coletiva à imprensa e afirmaram que inauguram “uma nova etapa” das relações entre os dois países.

Obama e Macri na Casa Rosada - Efe

Obama afirmou que “os Estados Unidos estão prontos para trabalhar com a Argentina em sua transição histórica”, em referência à ascensão de Mauricio Macri ao poder nas eleições realizadas em novembro de 2015, depois de 12 anos de governos kirchneristas. Sem poupar elogios, Macri disse que a liderança de Obama tem sido “inspiradora para a maioria dos dirigentes” do mundo.

Avanço do neoliberalismo

Segundo Macri em sua conversa privada com Obama os dois concordaram sobre a “importância de aumentar o comércio” entre osdois países, fomentar os investimentos e “trabalhar em conjunto” na luta contra o narcotráfico.

Entre os acordos firmados entre os dois países estão potencializar o intercâmbio educacional, que inclui a capacitação de docentes; bem como aprofundar os laços tecnológicos, a fim de impulsionar a “sociedade do conhecimento”. Além disso, os presidentes fecharam acordos para ampliar o comércio bilateral por meio de investimentos de companhias norte-americanas na Argentina para “fomentar o crescimento de pequenas e médias empresas, que são as principais geradoras de trabalho”.

Barack Obama elogiou o modelo económico imposto por Macri na Argentina. Em pouco mais de três meses de governo as tarifas de energia elétrica já aumentaram até 400%, alimentos básicos sofreram reajustes drásticos de até 300%, além do aumento da taxa de gás e transporte público. As medidas neoliberais refletiram imediatamente na vida dos mais pobres que já perderam mais de 20% do poder de compra do salário mínimo.

Porém, Obama disse estar “impressionado com os 100 dias de governo de Macri”. Segundo a empresa de pesquisas argentina Tendências Econômicas, só nos primeiros dois meses de 2016 a Argentina já registrou mais de 107 mil pessoas demitidas, entre os setores público e privado.

Fundos abures e combate ao narcotráfico

Obama elogiou o acordo que prevê o pagamento de U$S 4,65 bilhões aos fundos abutres pelo governo argentino. “A postura construtiva de Macri abriu a possibilidade de que haja uma solução para estabilizar a situação financeira” da Argentina, disse o presidente dos EUA, que elogiou também “os esforços” do país em combater o narcotráfico e o crime organizado e ofereceu a ajuda dos EUA para “apoiar os projetos de paz” na Argentina.

Neste sentido, Macri afirmou que se iniciou uma "abertura de agendas" a respeito de um acordo de comércio bilateral entre os dois países, mas declarou que primeiro se deve "fortalecer o Mercosul e depois pensar em um acordo mais amplo".

Representantes dos governos argentino e norte-americano assinaram acordos bilaterais em temas como comércio, segurança e cooperação para prevenir “crimes graves”. “Estes acordos mostram um novo caminho de trabalho conjunto e implicam uma mudança importante em nossa relação”, afirmou a chanceler argentina, Susana Malcorra.

Ditadura militar

Obama confirmou que os EUA irão retirar o sigilo de documentos relativos à ditadura militar argentina, informação divulgada na última semana pela Casa Branca. “Espero que possamos reconstruir a confiança que se havia perdido entre nossos países”, disse Obama. Por sua parte, Macri agradeceu a decisão do governo norte-americano. “Estamos muito agradecidos pelo gesto”, declarou.

A ditadura militar da Argentina foi uma das mais sanguinárias do continente, deixou mais de 30 mil mortos e desaparecidos. A visita de Obama ao país acontece às vésperas da data que marca os 40 anos do golpe militar. Ele é o primeiro chefe de Estado dos EUA a cumprir agenda oficial na Argentina desde 2005, quando George W. Bush (2001-2007) participou da 4ª Cúpula das Américas, em Mar del Plata, de onde partiu sem consolidar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que seus antecessores tinham promovido na região durante a década de 1990.

O governo Macri busca reforçar as relações com os EUA, estremecidas durante os 12 anos de governo Kirchner devido às diferenças entre os rumos pretendidos por Néstor e Cristina ao país e as ambições dos governos dos EUA na região.