Dilma em entrevista à CNN: "Luto agora para defender a democracia"

Em entrevista realizada pela jornalista estadunidense Christiane Amanpour, da CNN, e que será exibida nesta quinta-feira (28) pela emissora de televisão a cabo a partir das 22 horas, horário de Brasília, em seu canal internacional em inglês, a presidenta do Brasil Dilma Rousseff fala sobre o processo de golpe de Estado em curso no Brasil e sobre sua luta em manter os princípios da democracia vigentes no país.

Dilma Rousseff em entrevista à jornalista Christiane Amanpour da CNN

A entrevista trata do tema do impeachment, mostrando ao espectador que Dilma não cometeu nenhum crime de responsabilidade e nem está implicada em qualquer caso de corrupção durante seus dois mandatos.

A entrevistadora cita os Jogos Olímpicos como um acontecimento que está sendo ofuscado pelo processo político que o país vive. Ela pergunta a Dilma o que ela vê como principal aspecto da tentativa de deposição.

"Eu acho que há um elemento muito forte que é o fato de que eu sou uma mulher. Geralmente se fala que eu sou uma mulher muito dura", diz Dilma.

Ela mesma rebate com ironia: "E, quando dizem isso, eu respondo que sou uma mulher dura cercada por homens gentis, graciosos e educados que me rodeiam. Mulheres, quando em posição de comando, são descritas geralmente como 'duras' ", conta Dilma.

A entrevistadora afirma que Dilma tinha grande popularidade ao final do seu primeiro mandato, mas que agora pouco menos de 10% dos brasileiros aprovam sua gestão, marcada na mídia por casos de corrupção envolvendo na maioria dos casos políticos de partidos da base de seu governo.

Afirma também que a presidenta não está implicada em nenhum dos casos, mas muitos brasileiros foram às ruas para pedir sua derrubada.

Sobre a aprovação do impedimento pela Câmara dos Deputados, Dilma afirma que não é por impopularidade que tentam derrubar seu governo.

"No Brasil, assim como em outros países como os Estados Unidos, ninguém pode conduzir um processo de impedimento baseado na popularidade do presidente. Isso é uma questão cíclica. Se não fosse assim, todos os presidentes e primeiros-ministros de vários países que tivessem problemas econômicos sérios teriam pela frente um processo de impedimento", explica Dilma, fazendo notar que o impedimento é uma ação legal que é diferente de retirar um governo no parlamentarismo.

Ela lembrou ainda que não teve um minuto de paz nos últimos 15 meses, desde que se reelegeu, e passou a enfrentar dificuldades políticas no Congresso. Segundo a presidenta, todas as medidas enviadas à Câmara para enfrentar as dificuldades econômicas foram torpedeadas pela Casa e por seu presidente.

“Porque (eles) não apenas começaram a instabilidade política, tentaram inviabilizar a retomada do crescimento econômico. Do que eu sou acusada? Eu sou acusada, por exemplo, de transferir, porque nós pagamos transferência de renda sim.”

Para Dilma, a reforma política é urgente para que o país volte a crescer. Ela lembrou que, durante as manifestações de 2013, propôs uma Constituinte exclusiva para debater o tema, e que suas propostas não prosperaram.

"Naquela época, em 2013, nós falamos em uma constituinte que desse início a uma reforma política no Brasil, porque o Brasil não precisa só de reforma econômica, precisa também de reformas políticas, uma profunda reforma política, para viabilizar qualquer pessoa que sentar na minha cadeira, conseguir gerir e conseguir gerir de forma republicana esse país, ter uma relação republicana com o Congresso. E o Congresso também terá mais facilidade para os processos, e é necessário diminuir o custo das campanhas eleitorais no Brasil. Eu sou a favor de qualquer transformação no Brasil ser baseada no voto direto secreto. Eu não me apego a um cargo, eu acho que não se pode admitir é eleição indireta. Agora, eleição direta, eu sempre vou admitir."

Na entrevista, Dilma afirma que os esforços feitos para derrubá-la são, de fato, um golpe de Estado e ela diz que jurou não recuar diante disso.

"Eu lutarei para sobreviver, não pelo meu mandato", afirmou, "mas eu lutarei porque eu advogo e defendo a causa da democracia, dos princípios democráticos que governam a vida política no Brasil".

Confira, em inglês, reportagem sobre a entrevista que irá ao ar nesta quinta-feira: