"Não há base legal para o impeachment", diz ministro da Fazenda

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou durante sua exposição de defesa da presidenta Dilma Rousseff, na comissão especial do impeachment no Senado, que argumentos usados na fundamentação do pedido de impeachment não têm base legal.

Nelson Barbosa na Comissão do impeachment - Agência Brasil

“Considero não haver base legal para o pedido de impeachment da presidenta da República”, disse Barbosa, que defendeu ainda que a mudança das metas fiscais validou as edições de decretos. Ele acrescentou que os pontos que estão sendo colocados contra a presidenta hoje “foram questionados, respondidos e resolvidos em 2015”.

Barbosa participou da manifestação da defesa na comissão especial juntamente com outros dois ministros, José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União) e Kátia Abreu (Agricultura).

Ele salientou que todos os seis decretos de crédito suplementar citados no pedido de impeachment, somando R$ 95,9 bilhões, foram baseados em remanejamento de recursos, excesso de arrecadação ou superavit financeiro.

Para fundamentar a sua defesa, Barbosa citou ainda o artigo 4º da Lei Orçamentária Anual, que elenca as três fontes recorridas pelo governo como regulares e legais para a edição deste tipo de decreto.

“Um crédito suplementar aumenta a dotação de uma determinada ação [manutenção de universidades e hospitais], mas não autoriza imediatamente uma despesa. Esta é a grande diferença. Ele muda as alternativas em que pode ser gasto um valor financeiro que é determinado pelo decreto de contingenciamento”, disse.

O ministro da Fazenda esclareceu, ainda, que este tipo de documento não é numerado por não ter caráter normativo, medida adotada desde 2002, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Mesmo assim, ele lembrou que esses decretos são publicados no Diário Oficial da União. “Não são secretos. Foi uma medida simplificadora [adotada em 2002] para decretos que versam, por exemplo, sobre a nomeação de cargos”, explicou.

O ministro voltou a dizer que o governo Dilma registrou um grande contingenciamento de recursos e tinha aumentado o corte de despesas no mesmo mês em que os decretos foram editados. “O orçamento é uma autorização que vem determinando quando e onde o governo pode gastar. É uma previsão de receitas. Tem anos que [a receita] vem a mais e outros que vem a menos”, afirmou, ao explicar que, por isso, ao longo do ano, o governo remaneja alguns pontos para compatibilizar o limite financeiro à meta fiscal.

“Estes créditos suplementares, em nenhum momento, autorizam o aumento de despesa financeira”, completou, recorrendo novamente ao exemplo de uma lista de compras que seria o equivalente a um orçamento, enquanto o limite financeiro seria o volume de dinheiro que o cidadão teria no bolso. Se mudar um item “você muda a lista, mas o valor que pode utilizar continua sendo o que tem no bolso”.

Barbosa destacou, ainda, que o Congresso aprovou a revisão da meta fiscal, quando aprovou o projeto de lei do Congresso Nacional (PLN 5/15). “Onde esta a irregularidade? A meta fiscal foi cumprida. As senhores e senhores [parlamentares] alteraram e a meta foi cumprida”, lembrou. O PLN foi enviado pelo Executivo e avançou depois de inúmeras negociações com o Congresso.

Pedaladas?

O ministro reforçou que a chamada “pedalada fiscal” é, na verdade, o atraso de pagamentos a bancos públicos, referentes à equalização de taxas de juros de créditos agrícolas, não houve ato da presidenta da República e negou que tenha ocorrido atraso.

Ele explicou que a equalização é feita quando um recurso é disponibilizado para um agricultor, por exemplo, a uma taxa de 6%, mas com o pagamento de 8% aos bancos que operam o crédito. A diferença nesta taxa é bancada pelo governo. Nelson Barbosa afirmou que esta subvenção é aprovada pelo Congresso Nacional e autorizada e regulamentada pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Ministério da Fazenda. “Não é ato da presidenta”, afirmou.

No caso do Plano Safra, Barbosa recordou que, no parecer elaborado pela Câmara sobre o pedido de impeachment, foi destacado – no levantamento do Banco do Brasil – que, em dezembro de 2014, o total a receber da União era de R$ 10,9 bilhões e, em julho do ano seguinte, o valor passou a R$ 13,4 bilhões a receber do Tesouro.

“Uma leitura rápida levaria a impressão de um atraso de R$ 2,5 bilhões, mas dos R$ 10,9 bilhões foram pagos R$ 500 milhões. Em julho caiu. O governo pagou contas de exercícios anteriores”, afirmou.