Risco de retrocessos com Temer dá o tom ao 1º de Maio em Salvador

O tradicional ato das centrais sindicais em celebração ao 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalho, mobilizou cerca de 30 mil pessoas, durante todo o dia, no Farol da Barra, em Salvador, neste domingo. O tom da atividade, identificado nos discursos, faixas e intervenções artísticas, revelou a preocupação da classe trabalhadora com o risco de retrocessos de direitos conquistados, em um possível governo do vice-presidente Michel Temer (PMDB), caso a presidenta Dilma Rousseff (PT) seja afastada.

Temer já sinalizou que, caso assuma a Presidência, deverá promover uma reforma trabalhista, priorizando, entre as mudanças, a lógica da livre negociação entre trabalhadores e patrões, de modo a fazer prevalecer o “negociado sobre o legislado”. Para as lideranças sindicais, a proposta passa por cima da legislação trabalhista para preservar acordos particulares, que podem ser abusivos, e é uma afronta à luta para o avanço dos direitos sociais no país.

Aurino Pedreira, presidente estadual da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), uma das entidades organizadoras do ato, reforçou os riscos para a classe e garantiu que, em caso de impeachment de Dilma, os trabalhadores vão resistir. “Não vai ter reconhecimento por parte das centrais [sindicais] de um governo não-eleito porque esse governo que se configura [Temer-Cunha] é um governo golpista”.

Na atividade, intercalada ora por atos políticos ora por intervenções artístico-cultuais, as centrais também realizaram uma assembleia-geral, com a intenção de construir uma agenda de mobilizações contra o impeachment da presidenta Dilma. Já está marcada para o próximo dia 10 de maio (terça-feira) uma paralisação nacional, que deverá interromper a produção, o transporte, o setor público e o comércio, um dia antes da votação da matéria no Senado Federal, marcada para o dia 11.

No ato político, estavam presentes representantes dos partidos de esquerda com atuação no estado. Além do PT, também o PCdoB, o PSB, o PSOL, o PCO. O presidente estadual do PCdoB, deputado federal Daniel Almeida, relembrou de outros episódios da História parecidos com o atual momento político, como nos governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart, e garantiu que é a mesma elite de antes que se levanta agora.

“A turma da elite que se articulou antes quer voltar agora e implementar um golpe. Mas o povo brasileiro não vai mais aceitar porque não há mais espaço para governos ilegítimos. [A resistência] Não é só por Dilma nem por um partido, mas por um projeto. Querem acabar com as políticas sociais e é por isso que estamos nas ruas”, explicou Daniel Almeida, que também é líder do PCdoB na Câmara Federal.

Alice Portugal, também deputada federal pelo PCdoB-Bahia, reiterou a defesa do governo Dilma e as críticas à tentativa de impeachment da presidenta. Para ela, é evidente a natureza política, e não jurídica, do processo. “Dilma não cometeu crime algum e o impeachment só pode se configurar com um crime de responsabilidade. A elite não aguenta mais esperar a próxima eleição porque sabe que vai perder de novo. A presidenta pode não ter sido de palanques, mas é comprometida com o povo”, afirmou.

A senadora Lídice da Mata (PSB-Bahia) também esteve no evento e já adiantou o voto contra o impeachment da presidenta na votação do Senado, ignorando a orientação nacional do partido. “Esse golpe é contra os avanços sociais que conquistamos nos últimos anos. O caminho que precisamos encontrar não é o do golpe, mas da democracia e de saída da crise”, argumentou.

Outros dirigentes do PCdoB participaram do evento, como os vereadores de Salvador Everaldo Augusto e Aladilce Souza, os secretários Olívia Santana (SPM) e Álvaro Gomes (Setre), o dirigente sindical Augusto Vasconcelos (Sindicato dos Bancários) e a líder estudantil Nágila Maria (UEB).

De Salvador,
Erikson Walla