Arruda Bastos: Anastasia e a hipocrisia do sujo falando do mal lavado

Por *Arruda Bastos

Anastasia

Todos conhecem o provérbio português que diz “é o sujo falando do mal lavado”. Pois bem, quando o senador Antônio Anastasia do PSDB de Minas Gerais e relator da comissão do Impeachment no Senado leu o seu relatório, indicando ser favorável à admissibilidade do processo da presidente Dilma, esse provérbio apareceu como um raio em minha mente e acredito que em muitas outras que são conhecedoras da gestão dos tucanos em Minas.

Pesa sobre os ombros do senador, além de uma gestão ineficiente, um grande número de denúncias de irregularidades em sua desastrada administração a frente do governo mineiro. Ele é um dos "sujos", que considera crime de responsabilidade o que se convencionou chamar de “pedaladas fiscais”, sendo que, em seu mandato, foi um dos governadores que mais pedalou no País, um verdadeiro campeão olímpico. Cometeu mais que pedaladas. Foram verdadeiros malabarismos fiscais. Ele e os demais governadores tucanos também são acusados, entre incontáveis outros malfeitos, de não utilizarem os recursos constitucionais mínimos do SUS na saúde do seu Estado, o que configura, por si só, crime grave.

Contra a presidente Dilma não pesa nenhum crime de responsabilidade, uma vez que pedaladas e assinaturas de decretos de suplementação orçamentária como já ficou demonstrado na comissão da Câmara e até mesmo durante a votação patética dos deputados. Estes, que apelaram para suas famílias e seus patrimônios ao votar “sim” pelo Impeachment, em nenhum momento mencionaram o crime da presidente para justificar seus votos. Esse fatídico dia 17 de abril, só para lembrar, vai ficar na história como um dos mais chocos e humorísticos da nossa Câmara dos Deputados, até mesmo para nós, cearenses, que somos especialistas na área.

Para os adversários da nossa presidenta ficou apenas a acusação da impopularidade momentânea, de ser turrona com políticos, membros da sua equipe de ministros e de sua infinita capacidade de dedicar sua gestão para as regiões e pessoas mais pobres do nosso país. Digamos que a nossa presidenta é, no máximo, para eles, a "mal lavada" do ditado “o sujo falando do mal lavado”.

O "sujo" em primeiro lugar é o senador Antônio Anatasia e seu partido, o PSDB, que se mostra oportunista e que, em conluio com o traidor Michel Temer e o gângster Eduardo Cunha, tenta implementar o maior golpe da história da nossa jovem democracia. Em seguida, vem os outros partidos que detém gestores em seus quadros que, em várias oportunidades, pedalaram e pedalaram e, diga-se de passagem não como Dilma, mas sim com finalidades duvidosas. Se Dilma pedalou, o fez para beneficiar os programas e os avanços sociais, como o “Bolsa Família” e o “Minha Casa Minha Vida”.

O senador fala que não existe golpe em andamento no Brasil pelo fato de o processo ser transmitido pela televisão, como se um crime sendo transmitido em um programa policial não fosse crime, e também com o argumento de ensejar defesa. Queria ele que mesmo sendo acusada injustamente a nossa presidente não se defendesse, queria um ridículo como ele um W.O. .

No momento vivemos no Brasil um tsunami de hipocrisia que contamina grande parte dos nossos políticos e partidos. Sem dúvida, a nossa história vai saber cobrar deles, com juros e correção monetária, reparação pelos atos golpistas de hoje.

Por fim, só me resta constatar que, como se “apear do poder” uma presidenta honesta e sem crimes para colocar no seu lugar uma oposição derrotada nas urnas e mais suja do que pau de galinheiro. Tenho confiança de que o povo brasileiro saberá resistir a tamanho descalabro e derrotará as forças do ódio e do retrocesso.

*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-secretário da saúde do Ceará e um dos coordenadores do Movimento Médicos pela Democracia.

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