Christiane Brito: Não vai ter foto
Com esse grito de guerra, os fotógrafos presentes à posse de Michel Temer surpreenderam o público. E emocionaram a nação atenta, que está assistindo o golpe nas redes sociais.
Por Christiane Brito
Publicado 13/05/2016 16:06
O Brasil que não está na TV tem uma multidão de mulheres protestando em frente ao palácio do Planalto, em Brasília, e outra multidão de manifestantes ocupando o vão do MASP – Museu de Arte de São Paulo.
Tem helicópteros da polícia sobrevoando bairros de classe média na capital paulista, em uma vigilância que até então só existia nas periferias.
Tem aviso de que o Exército está pronto para entrar em ação contra “os baderneiros do PT”: Todos (“meia-dúzia segundo a Globo”) pagos pelo partido.
Tem declarações de extrema-direita acusando Dilma de ser um fracasso, não só como presidente, mas como mulher, já que não aproveitou a oportunidade única que lhe foi dada (aqui não estão contabilizados, claro, os mais de 54 milhões de votos “conquistados” e não recebidos em bandeja, conforme a ex-oposição agora governo faz crer).
Provavelmente Michel Temer concorda com os ataques à “mulher” Dilma, já que não nomeou nenhuma mulher para o seu ministério. Tampouco negro ou índio. Reuniu sujeitos brancos e fortes o bastante para fazer a faxina ética e política que o país está merecendo, diriam os apoiadores do golpe.
Por outro lado, os que repudiam o golpe aumentaram em número e seguem crescendo. É emocionante ver um desgarrado – que defendeu o impeachment – voltar para a trincheira da democracia. Há muitos nessa situação porque a confusão jurídica armada pela mídia caiu como nevoeiro sobre o povo, ensejando uma cegueira do tipo descrito por José Saramago: epidêmica.
Na visão de alguns especialistas, a resistência pode reverter o golpe, devidamente instaurado hoje: “Cabe aos democratas resistirem e, sempre que for possível, denunciarem a ilegitimidade do atual governo, parido no conluio entre togas, mídia, capital financeiro e oligarquias. Enfim, a luta continua. Mas sem a ilusão de que se aliar com representantes do grande capital pode resultar em um país com instituições republicanas e democracia sólida”, diz Gilson Carone Filho.
Outros, como o jornalista Rodrigo Vianna, estão mais pessimistas: “Ouço algumas pessoas, ligadas aos movimentos sociais e a partidos de esquerda, dizendo que esse quadro favorece uma reação imediata nas ruas – para deslegitimar Temer. Minha impressão é de que, bem ao contrário, Temer conta com essas ações (fechamento de ruas e estradas, ocupações de prédios públicos e propriedades privadas) para construir a legitimidade de que necessita”.
Seja como for, o Brasil tem que correr o risco, tem que ir para as manifestações, tem que ocupar espaços, tem que encarar o #LutoPelaDemocracia, seja ele o pesar por mais perdas ou o avanço nas trincheiras democráticas.