Jovem é barrado na ocupação Mata Machado e alunos denunciam racismo

Estudantes que participam da Ocupação Mata Machado, da Faculdade de Direito e Ciências do Estado da UFMG, denunciam um possível caso de racismo contra um integrante do movimento de resistência ao governo ilegítimo de Michel Temer. Alunos e integrantes dos movimentos sociais ocupam desde a última quinta-feira (12) o pátio da instituição.

Por Sabrina Carozzi, especial para o Vermelho-Minas, com Mariana Viel

Segundo eles, na noite desta segunda (16) um aluno do curso de direito e um integrante da ocupação foram barrados na portaria da faculdade mesmo após apresentar os documentos de identificação. O chefe de segurança da instituição alegou que o limite de horário para o ingresso na faculdade é 23 horas e que eles estavam três minutos atrasados.

Outros participantes da ocupação que estavam no local contestaram o atrasado. Eles afirmam que os integrantes da ocupação chegaram à portaria da faculdade às 22hs58 – dois minutos antes do prazo para o ingresso na instituição. Segundo eles, desde o início do protesto organizado pelos universitários, foi estabelecido, em acordo com a diretoria, que o horário de entrada e saída dos membros da ocupação seria até às 23h30.

Apesar do suposto atraso, um dos estudantes conseguiu acesso ao prédio após passar a sua carteirinha de identificação pelo sistema de segurança. O não-aluno, negro, foi barrado. Questionado sobre o que aconteceria com o “externo” se ele insistisse em entrar sem autorização, os porteiros afirmaram que o tirariam do prédio a força e que chamariam a polícia.

Os funcionários ficaram reticentes ao serem questionados sobre tratamento que deveria ser dispensado ao aluno de direito que, na versão deles também desobedeceu a restrição de horário. Um deles se limitou em afirmar que, apesar do atraso, ele era aluno da instituição.

Um dos membros da Ocupação Mata Machado, que preferiu não se identificar, afirmou que o controle de acesso à faculdade é claramente preconceituoso. “Numa constrangedora exposição ao não-aluno, negro, foram disparados uma sucessão de argumentos racistas. A restrição descumpre as ordens anteriormente acordadas entre a direção da faculdade e os membros da ocupação. As ameaças de acionamento da polícia militar e evidenciam, mais uma vez, o sistema falho e discriminatório do controle de acesso, em dissonância com o conceito de universidade pública”, afirmou.

Segundo eles, inúmeras justificativas vêm sendo utilizadas em nome do impedimento de entrada de membros da comunidade geral ao prédio. Até mesmo alunos matriculados em outros cursos da UFMG já tiveram acesso negado.

Eles afirmam que a diretoria da faculdade tem ostensivamente se omitido quanto a regulamentação do “controle de acesso”, a ser feito com bases em parâmetros objetivos, que não permitam a abertura de margens indiscriminadas e discriminatórias.

“O fato testemunhado por todos os membros da ocupação reafirma que a Diretoria da Faculdade de Direito e Ciências do Estado não coaduna com a articulação da Universidade Pública com a sociedade”, respondeu outro estudante da faculdade. “A Ocupação Mata Machado não é de alunos. É, e assim se pauta, como uma extensão da sociedade, composta pluralmente, sem racismo, sem transfobia ou qualquer forma de discriminação”, completou.

Histórico

Os estudantes dos cursos de Direito e Ciências do Estado ocupam o Território Livre da faculdade desde quinta-feira (12), quando cerca de 50 alunos passaram a noite no pátio. Eles se dividiram em diversas comissões para cuidar de questões como segurança, alimentação e comunicação. A mobilização é coordenada pelo Comitê Faculdade de Direito e Ciências do Estado Contra o Golpe (FDCE Contra o Golpe), grupo que reúne alunos, ex-alunos e professores que são contrários ao impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff.

A ocupação foi deflagrada em manifestação ao golpe de Estado em curso no Brasil e questiona o “controle” do acesso à unidade, que vem se mostrando, desde a sua implementação, como um método de restrição de acesso.