Audax de Itápolis ou Velho Oeste do futebol

Desde o começo do “oba oba” em torno do clube empresa (retomando expressão muito usada nos anos 90) Audax Osasco as comparações com outros clubes “pequenos” foram inevitáveis. Inter de Limeira de 86, Bragantino de 90, até com a seleção de Camarões da copa de 90 equipararam a empresa de compra e venda de jogadores instalada na Grande São Paulo.

Por Thiago Cassis*

Diniz Audax futebol

Bastou terminar o Campeonato Paulista de 2016, com o vice-campeonato, e sim, um bom futebol, apresentado pelo Audax para que esse romantismo em relação à equipe do interior fosse por água abaixo. Normalmente, por não estar na série A, nem B e também fora da série C, o clube de Osasco jogaria a série D. E vai jogar, lá estará o Audax constando na tabela da série D. Mas e os seus principais atletas, que ainda não foram vendidos e seu treinador? Eles não vão para a série D.

Como todo projeto que visa unicamente o lucro, sem preocupação absolutamente nenhuma com a torcida da equipe em Osasco, os empresários que comandam o Audax alojarão todos os seus “valores” em uma vitrine melhor. Sendo assim, em um acordo anunciado essa semana, o treinador Fernando Diniz e seus atletas migram para Itápolis e passam a vestir as cores do Oeste. Clube do interior paulista que disputará a série B esse ano. Torneio que tem transmissão da Sportv e conta com a participação de grandes clubes, como, por exemplo, o atual campeão carioca, Vasco da Gama.

O treinador Fernando Diniz, em entrevista recente, diz que não se trata de uma “manobra” e coloca a culpa na organização do futebol nacional,“no calendário do jeito que ele é feito, o time quase campeão, que foi vice-campeão (paulista) e jogou bem o campeonato para você ter algum atrativo para marca ficar em evidência… disputar a Série D fica muito distante do que foi o Campeonato Paulista”.

Concordo que o futebol brasileiro não está representado em sua diversidade no atual formato de campeonato nacional, que tenta se assemelhar aos padrões europeus, quando na verdade vivemos em um país continental. Mas fica clara outra realidade, que não chega a surpreender quem acompanha os bastidores do futebol brasileiro, quando o treinador revelação fala em “marca ficar em evidência”. É disso que se trata então? Sai abrindo filiais do Audax ou do Red Bull pelo Brasil afora, e rapidamente revender os jogadores para lucrar.

Que qualquer clube que invista na formação de um atleta, espera de alguma forma recuperar o valor investido e com algum lucro, faz parte do jogo. Mas chegamos a um novo patamar com a “locação” do Oeste por parte do Audax, e isso está implícito na fala do próprio treinador que está de malas prontas de Osasco para Itápolis. Resta saber onde isso vai parar e não é surpresa que tanto os novos torcedores e torcedoras de Osasco, Itápolis e tantas outras cidades, prefiram os sonolentos jogos da Champions League na TV, que também fazem parte do mesmo sistema, mas ao menos seus clubes reúnem os melhores atletas do planeta, do que vestir as “camisetas de aluguel” de seus clubes locais.

*Thiago Cassis é jornalista e coordenador do Coletivo Futebol, Mídia e Democracia do Barão de Itararé