PCdoB: Política externa de Temer ameaça integração latino-americana

Nesta segunda-feira (30), o Partido Comunista do Brasil divulgou nota de sua Comissão Política Nacional condenando a “autoproclamada nova política externa” do governo golpista brasileiro, que ressuscita “uma política externa subalterna para com o imperialismo estadunidense e as potências imperialistas da União Europeia e de menosprezo e divisão para com a América Latina, o Caribe e a África”.

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Leia abaixo a íntegra do documento sobre a política externa do governo golpista:

Nota sobre a política externa

1 – A Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil rechaça as proposições apresentadas no discurso de posse do ministro interino das Relações Exteriores José Serra, reveladoras do afã de destruir o legado de prestígio do Brasil junto aos povos do mundo, granjeado pelo exercício durante os governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff de uma política externa independente, de defesa da paz e da democratização das relações internacionais.

2 – A Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil repudia os pronunciamentos feitos no dia 13 de maio pelo Ministério das Relações Exteriores do governo ilegítimo de Michel Temer, em que a chancelaria se expressa em termos injustos e inamistosos contra países da América Latina e do Caribe e a União das Nações Sul-Americanas – Unasul. Aqueles países e a Unasul haviam manifestado sua solidariedade com nosso país e o povo brasileiro no momento em que a democracia é violada pelo golpe de Estado contra o governo legítimo, constitucional e democrático da presidenta Dilma Rousseff. Semelhante posição foi defendida também por organizações sociais de várias partes do mundo. Destoante desse consenso internacional foi apenas a posição do embaixador estadunidense na Organização dos Estados Americanos (OEA), que considerou legal o movimento golpista em curso no Brasil.

3 – A autoproclamada nova política externa anunciada no discurso de posse do ministro interino ameaça a unidade latino-americana, principal obra da diplomacia dos governos de Lula e Dilma. O Brasil se empenhou bastante durante esses governos para erguer a unidade latino-americana e promover a integração política soberana dos países da região. E contribuiu para criar instituições que correspondem a esse propósito, como o Mercosul, a Unasul e a Celac. Ao promover e fortalecer a integração da América Latina e o Caribe, o Brasil ajudou a criar um polo geopolítico e econômico que passou a desempenhar um papel importante na luta pela desconcentração do poder mundial, a democratização das relações internacionais e a paz mundial.

4 – O governo interino demonstrou sua predisposição para abandonar essas conquistas. Seus ataques a países amigos e a instituições da integração latino-americana contrastam com as tradições diplomáticas do Brasil e são atitudes hostis aos laços de amizade que o nosso país tem cultivado com forças democráticas e progressistas em todo o mundo. Exercitou, ademais, a velha postura de falar alto com os países amigos menores do continente, ao tempo em que amacia a voz com os Estados Unidos.

5 – O Partido Comunista do Brasil agradece uma vez mais as palavras e gestos de solidariedade dos países amigos e da Unasul, ao tempo em que reafirma a luta pela integração soberana da região latino-americana e caribenha, princípio incorporado à Constituição Federal: “A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações”. (Artigo 4º, Parágrafo Único).

6 – A Comissão Política Nacional do PCdoB denuncia que o chefe interino do Itamaraty pretende ressuscitar uma política externa subalterna para com o imperialismo estadunidense e as potências imperialistas da União Europeia e de menosprezo e divisão para com a América Latina, o Caribe e a África.

7 – Durante os governos das forças democráticas e progressistas liderados por Lula e Dilma, o Brasil se projetou no mundo, aumentando sua força, ao tempo em que se empenhava para desconcentrar o poder mundial e conquistar uma nova ordem econômica, ao integrar um novo bloco fora da influência estadunidense e europeia, o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). A pretensa nova política externa açodadamente anunciada pelo ministro interino José Serra tenciona exatamente fragilizar esse bloco frente ao hegemonismo dos Estados Unidos.

8 – A Comissão Política Nacional do PCdoB reitera sua disposição de lutar pelo desmascaramento dessa pretensa nova política externa do governo interino de Michel Temer, ao tempo em que, junto com todo o Partido, continuará lutando para afastar o governo ilegítimo que se apossou do poder por força de manobra golpista.

São Paulo, 30 de maio de 2016

A Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil