Ato em Florianópolis Pelo fim da cultura do estupro

O estupro é culpa de quem? Do estuprador!”, gritaram as centenas de manifestantes que saíram às ruas do centro de Florianópolis, no dia 30 de maio, para protestar contra a cultura do estupro.

fim da cultura do estupro

Organizado pela Marcha das Vadias, o ato "Por todas elas" teve concentração no "Ocupa Minc SC" com oficinas artísticas e discussão sobre a condição da mulher na sociedade atual. “Ele me disse 'eu sou mais forte’. Mas, quando ele está dormindo, eu sou a mais forte”, disse uma das participantes das oficinas.

Elas marcharam até a escada da catedral, onde oportunamente pediram pelo fim da interferência da igreja nas questões do Estado. Reunidas na escadaria da igreja, contaram juntas até o número 33 como forma de protesto ao estupro coletivo contra uma jovem de 16 anos, no Rio de Janeiro. “Viemos para afirmar que os projetos de retrocesso não vão passar e a cultura do estupro tem que acabar”, diz Kali Turrer da Marcha das Vadias.

Segundo Kali, a construção de uma sociedade sem violência contra mulheres só será possível com um ensino que promova a equidade de gênero. “Precisamos discutir o gênero na educação. A gente aprende desde cedo a oprimir e não respeitar os colegas. É dever da sociedade como um todo incluir o gênero nas discussões”, afirma.

Enquanto na cultura do estupro, “puta” é um xingamento ou até argumento para culpabilizar vítimas de violência sexual, algumas manifestantes consideram a palavra um elogio. “As putas foram as primeiras revolucionárias da história. Elas não tinham voz. Saíram de casa, negaram a maternidade romantizada e todo o papel que a sociedade impõe. Restou a prostituição”, diz a doula Fernanda Nunes.

O assistente social, Kawe Campolio estava entre os poucos homens que apoiaram o ato. “Apoio porque os agressores somos nós. Enquanto houver exploração de classe vai haver de gênero. A luta das mulheres ajuda a transformar essa sociedade desigual. É difícil imaginar a mudança sem a participação das mulheres”, afirma.

Marcelle Costa Oliveira, integrante do coletivo artístico Desamordaçadas e da Batalha do Rap das Minas, conta que fica indignada com a forma que a mídia costuma tratar os casos de estupro. “A manchete de jornal diz ‘suspeita de estupro’. A mídia sempre quer culpabilizar a vítima. Isso me deixa engasgada. Se tava bêbada, drogada, de saia curta, nada pode servir de justificativa. Temos que nos unir e colocar isso na arte e na luta”, diz.

Marcelle escreve poesias marginais, a maioria sobre a discriminação contra as mulheres. “Minha inspiração surge no cotidiano e o meu cotidiano, como de todas as mulheres, é marcado pelo machismo gritante que fica nos esmagando o tempo todo. A cultura do estupro começa em casa”
Estupro coletivo

A delegada Cristiana Bento, responsável pelo caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro, afirmou que as imagens do vídeo são suficientes para provar a violência sexual. "Está lá no vídeo, que mostra um rapaz manipulando a menina. O que eu quero agora é verificar a extensão desse estupro, quantas pessoas praticaram esse crime", disse a delegada.

Em 2009, a lei 12.015 sobre violência sexual foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro. "Como ela estava desacordada, não vai haver lesão porque ela não ofereceu resistência. Por isso o laudo não é determinante", afirmou a delegada.

Fonte: Blog Catarinas Texto de Paula Guimarães. Fotos de Clarissa Peixoto.