Golpista Cássio Cunha Linha é vaiado em seu reduto eleitoral

Na abertura da maior festa de São João do mundo, em Campina Grande (PB), o senador tucano Cássio Cunha Linha foi vaiado e chamado de golpista pela multidão, na madrugada deste sábado(4). Um dos mais empenhados defensores do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o parlamentar tentou culpabilizar o governo da presidenta mas era abafado pela multidão a cada referência. Tem sido rotina o escracho contra políticos que apoiam o governo golpista de Michel Temer.

Cassio Cunha Lima
Campina Grande, nesta época do ano, se torna um dos destinos mais procurados do Nordeste. Situada na Serra da Borborema, cerca de 130km da capital paraibana, João Pessoa, é conhecida por realizar o “Maior São João do Mundo”. Durante as eleições de 2014 chamou atenção por outra característica: era a única cidade da região em que o PT nunca venceu um turno sequer nas eleições presidenciais, desde 2002.

Acontece que na última sexta-feira (3), na noite que marca a abertura dos 30 dias ininterruptos de forró, um fato inusitado balançou as estruturas daquela que ficou conhecida como a “ilha tucana”. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB), um dos líderes mais tradicionais da política paraibana e conhecido porta-voz do golpe contra a democracia, foi fragorosamente vaiado durante a sua fala.

Foram três longos minutos de constrangimento para o senador, que incomodado atribuiu a vaia “a inocentes úteis” influenciados por “esquerdistas que defendem um governo corrupto”. De acordo com pessoas que estavam no local essa foi a deixa para que as vaias e os gritos de golpista se ampliassem. “Estou sempre na abertura do São João de Campina, desde 2002. É a primeira vez que Cássio é vaiado”, explicou o bacharel em Direito, Rafael Maracajá Antonino, que mora em Serra Branca (PB). “Primeiro foram as vaias localizadas, depois, quando ele disse que eram jovens de esquerda que apoiavam um governo corrupto, o coro foi generalizado. Seu discurso foi o mais curto da história, três minutos”, detalhou.

Luan Costa, ativista cultural, disse que se surpreendeu com a reação popular. “Quando o locutor anunciou o nome dele [Cássio] percebi que algumas pessoas já pareciam incomodadas. Quando ele começou a falar foi espontâneo, foi geral, começou a vaia e as pessoas foram aderindo. Quando ele retrucou que era vaia dos esquerdistas, as pessoas ouviram por um segundo e, de repente, aumentou a vaia”.

Um repúdio tão intenso à Cassio Cunha Lima é um fato inédito. A cidade que tem pouco mais de 405 mil habitantes tem uma longa tradição de apoio à família do senador. Seu pai, o advogado e poeta Ronaldo Cunha Lima foi vereador e prefeito da cidade — inclusive teve seu mandato e seus direitos políticos cassados pela ditadura em 1969 — e desde o início da sua vida política garantiu grandes votações para todos os cargos que disputou. Cássio é herdeiro dessas votações. Embora tenha perdido as eleições para governador em 2014, em Campina Grande teve 59,82% dos votos válidos, cerca de 127 mil votos, contra cerca de 63 mil votos do seu adversário, Ricardo Coutinho.

Ocupado com as articulações para legitimar o governo interino, é possível que o senador tucano tenha desviado o olhar da sua principal base eleitoral e minimizado o poder das atividades em defesa da democracia que acontecem todas as semanas nos mais diversos locais da cidade. São coletivos de trabalhadores, mulheres, jovens, artistas e estudantes que se multiplicam e das mais variadas formas repudiam a trama golpista e buscam elevar o nível de consciência da população.

Curiosamente o prefeito Romero Rodrigues, também do PSDB, não foi vaiado, apesar da gestão apática e dos gravíssimos problemas com abastecimento de água enfrentados pelos campinenses. Por sua vez o representante do governo interino golpista no Ministério da Ciência, Tecnologia e Comunicação, Gilberto Kassab, não teve um minuto de sossego desde que pisou no estado. Fica claro que o repúdio dos paraibanos é, de fato, à política rasteira e às artimanhas para implementar um programa que penaliza a população e subtrai direitos, um programa retrógrado repudiado nas urnas e imposto descaradamente através de um golpe.

Talvez seja hora do senador rever suas posições e olhar com mais atenção para os anseios da sua cidade. É possível que a ilha tucana não seja mais tão tucana assim. 


Ricardo Barros, da  Saúde também foi vaiado

Na quarta-feira (01/06), o Ministro da Saúde do governo interino de Temer, Ricardo Barros, teve que cancelar o discurso no 32o. Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, que foi realizado em Fortaleza. O motivo foram as milhares de vaias e gritos de golpista. Após a saída do ministro o público, incluindo secretários municipais de saúde, passaram a vaiar também os discursos que faziam referência ao ministro.

Assista abaixo os vídeos: