A prisão de Paulo Bernardo, o golpe, o plebiscito e a frente ampla

Então quer dizer que o ex-ministro Paulo Bernardo, sendo chefe de um esquema que teria desviado 100 milhões de reais do erário, como afirma a PF/MPF de São Paulo, ficou com 7 milhões desse montante, ou seja, 7% do total? Ah! mais respeito com a nossa inteligência.  Que "quadrilha" é essa cujo suposto chefe fica com a menor parte do butim? O roteiro desse espetáculo não se sustenta. Há algo muito estranho nessa história toda.  

 Claudio Machado*

Como explicar que um inquérito, que existe ha pelo menos um ano, só agora – e logo agora, no calor das denúncias contra o governo golpista do usurpador Temer – resulta em prisões e conduções coercitivas?

 

Por que essa operação espetaculizada ocorre logo após a visita do ministro da justiça Sergio Moro, o juiz da Guantánamo de Curitiba?

 

Aliás, essa ida do ministro a Curitiba está muito mal explicada. O motivo alegado não se sustenta e mais uma vez agride nossa inteligência. Para definir deslocamento de policiais federais da superintendência da PF do Paraná, para reforçar a segurança dos jogos olímpicos no Rio de janeiro, bastaria que o chefe da pasta do ministério da justiça despachasse com o diretor geral da Polícia Federal, seu subordinado direto, sem precisar ir ter com um juiz de primeira instância, não é mesmo?

 

Mas voltando á operação "custo Brasil" (na verdade, filial da lava jato), o que justifica, em que norma se sustenta a autorização judicial que permitiu a entrada de policiais na casa de uma senadora da república, Gleisi Hoffmann, para realizar a prisão do ex-ministro, além de busca e apreensão de documentos e computadores?

 

Não há nada de anormal no fato de o Ministério Público e a Polícia federal investigarem  Paulo Bernardo e outros suspeitos de estarem envolvidos em crimes contra o erário. Mas o que não é aceitável, é dispor esse nobre ofício público a interesses políticos, mais ainda quando estes interesses estão voltados para varrer a democracia do Brasil, com a consolidação do golpe de estado em curso. Mas para isso, primeiro o senado tem que a presidenta definitivamente.

 

E  é forçoso concluir que para fortalecer os golpistas no senado da república é que a operação da filial da lava jato foi levada a cabo justamente no momento em que, na "Câmara Alta", os ventos sopram favoráveis aos que defendem a recondução de Dilma ao comando do país, tamanha a insustentabilidade das razões apresentadas para o impeachment. Era preciso algo para mudar a tendência existente hoje que é, ou era, a de conseguir a adesão de mais senadores e senadoras contra o golpe.

 

O coroamento deste espetáculo midiático – mais um da intentona golpista – foi a busca e apreensão realizada na sede nacional do PT em São Paulo, como se fosse a tomada de um bunker mafioso. Um aparato de policiais armados até os dentes e em uniformes próprios para o combate, cercou a entrada do prédio, enquanto arapongas vasculhavam seu interior recolhendo documentos e equipamentos eletrônicos.

 

Cada vez fica mais claro e evidente que dentre os objetivos do golpe está a inviabilização definitiva do PT como um grande partido de esquerda, seja cassando seu direito político, ainda que temporariamente, ou inviabilizando-o financeiramente, com a aplicação de pesadas multas e ordens de devolução de somas estratosféricas. Falta pouco para isso.

 

Mas enganam-se os que acham que esse é um problema do PT. Não, não é. É um problema que atinge a todos nós, ao atingir a democracia e, em um futuro breve, atingirá de forma contundente todos os setores de esquerda, sejam partidárias ou do movimento social e sindical, sejam próximas ao PT ou não.

 

Está a caminho a moldagem uma pseudo-democracia pós golpe, com a neutralização das forças progressistas, reduzindo as forças de esquerda a uma fração insignificante da sociedade, via criminalização e desmonte do PT e, concomitantemente, com o fortalecimento de uma "oposição dentro da situação", numa espécie de reedição, em pleno século XXI, da política café com leite que dominou o Brasil na velha república.

 

Mas o teor dessa abordagem nada tem a ver com uma visão pessimista da conjuntura, mas realista, pois só chegando o mais próximo possível da compreensão da realidade é que se pode definir as melhores táticas para enfrenta-la. E em busca dessa compreensão é prudente aceitar que o inimigo tem ao seu lado todo o aparelho de estado, inclusive o poder executivo, que ainda ha pouco era a cidadela institucional das forças progressistas, ainda que infiltrada de inúmeros quinta-colunas. Agora nem isso restou.

 

Então, o que fazer? Sem alongar em detalhes, a grande obra a ser construída é a edificação de uma Frente Ampla capaz de unificar as forças de esquerda e centro-esquerda, com objetivos de curto, médio e longo prazos, o que significa não apenas lutar contra o golpe, mas buscar a coesão em torno de um programa comum, capaz de manter a unidade para além da derrota do golpe, que seja capaz de governar cidades, estados e o país. Nesse Rumo, a Frente Brasil Popular é uma tentativa, assim como a Frente Brasil Sem Medo, mas que ainda estão distantes da superação das visões hegemônicas de cada uma das forças que as compõem.

 

Talvez o plebiscito pós-retorno de Dilma ao exercício efetivo da presidência, se visto não como uma bandeira, mas como uma plataforma, possa vir a ser o amalgama capaz de dar a liga necessária a um projeto de Frente Ampla que aglutine PT, PSOL, PCdoB, PDT, e outros partidos de esquerda e centro-esquerda, assim como movimentos sociais e sindicais, em especial CUT, CTB, MST, MTST, CONTAG, MPA, VIA CAMPESINA, COIAB, FIRN (estas duas últimas, indígenas) e demais organizações populares nacionais e regionais.

*Claudio Machado é secretário estadual de comunicação do PCdoB no Espírito Santo e coordenador do nucleo capixaba do Barão de Itararé.

Publicado originalmente no blog "Combatente":  claudiomachado65.blogspot.com.br