Guadalupe Carniel: Impressões de uma partida de Libertadores

Há tempos não saía de casa pra ir num jogo de semana às dez da noite e principalmente de Libertadores. Primeiro que pra conseguir o ingresso foi uma loucura, já que não sou colombiana, não tenho rios de dinheiro e muito menos carro pra poder me deslocar.

Por Guadalupe Carniel*

Calleri, jogador do São Paulo, em jogo contra o Atlético Nacional pela Libertadores de 2016

 Depois de muito conversar consegui tanto o ingresso quanto a carona e dei um jeito de entrar. Fui de ônibus, levei a camiseta na bolsa e dei de cara com são paulinos por todos os lados. A festa da torcida do lado de fora com sinalizadores estava insana e dava o tom do que deveria ser a partida.

Ali era a decisão, o São Paulo tinha que se fazer valer do fator casa pra impor um bom resultado contra o Atlético Nacional de Medellín. A recepção aos jogadores foi fantástica, deu saudade de ir aos jogos de quarta. Fiquei do lado de fora até 30 minutos antes do início. Quando começou a partida, os mesmos sinalizadores que reinaram lá fora estavam do lado de dentro. E fiquei pasma ao ver hoje que não houve crítica alguma em jornais ou programas de TV. Ou seja, os sinalizadores não geram a temida violência e nem fazem tanta fumaça ao ponto de ter um jogo suspenso, como justificam promotores pelo Estado de São Paulo que insistem em matar a cada dia nossa festa nas arquibancadas.

No jogo o Atlético se mostrou capo. Vi gente comentando que o São Paulo jogou melhor no primeiro tempo, mas na realidade a equipe colombiana administrou bem o jogo, soube cadenciar e fazer o São Paulo jogar no ritmo que o Verdolaga quis.

No segundo tempo, aceleraram já que viram que o tricolor não conseguia criar nada, os colombianos se soltaram e começaram a atacar com sete jogadores. A expulsão de Maicon aos 28 do segundo tempo, foi o divisor de águas na partida, exagerada de fato, mas parecia que o jogador não tinha malícia para jogar uma Libertadores. Assistindo à partida, senti que o técnico Bauza não havia feito a lição de casa e estudado a equipe colombiana. Com dois de Miguel Borja (aos 37 e 43 do segundo tempo) o Atlético Nacional deu números finais ao jogo.

Torcida e equipe se tornam uma coisa só, entramos no jogo com os jogadores. E quando os atletas não fazem sua parte, queremos brigar e defender nossas cores. Em se tratando de Libertadores não poderiam faltar cenas lamentáveis e esse jogo não foi uma exceção: a torcida do São Paulo começou a ir embora, mas alguns no setor Laranja começaram a brigar, onde ficam as organizadas (que vi em alguns sites serem chamadas de facções).

A confusão foi parar do lado de fora, na Praça Roberto Gomes Pedrosa. A Tropa de Choque fez um bloqueio e lançou bombas de efeito moral, e balas de borracha. Os torcedores que estavam do lado de fora revidaram com garrafadas, pedaços de madeira e pedradas. O que muito me incomoda é ver gente falando como se a violência tivesse sido criada pelas torcidas. O que acontece numa arquibancada é apenas reflexo da sociedade. Vivemos numa eterna guerra civil, somos um dos países mais violentos do mundo.

Depois de muito tempo, a PM deu sua versão dos fatos alegando que os torcedores organizados que não entraram no jogo saquearam outros torcedores e ambulantes. Pra fechar levaram nove pessoas com camisas de organizadas. Com isso, quem estava dentro do estádio ainda teve que esperar a confusão se dispersar, e isso demorou cerca de trinta minutos. Ou seja, se eu não tivesse uma carona, não voltaria pra casa e dormiria na rua.

Agora a situação do Tricolor está mais complicada, já que vai enfrentar o Atanasio Girardot abarrotado e com a barra “Los del Sur” pressionando o tempo todo e precisa fazer dois gols, sem levar nenhum, para levar a disputa para os penais.