Você não odeia as segundas-feiras, você odeia o monopólio

No dia 4 de julho, a Confederação Brasileira de Futebol estreou seu novo horário para os jogos do Campeonato Brasileiro da primeira divisão: às 20h das noites de segunda-feira. Com promoção de ingressos, a Ilha do Retiro, palco do confronto entre Sport e Palmeiras, lotou, é verdade – 26.419 pagantes assistiram ao prélio. Mas futebol de segunda-feira vai pegar? Afinal, a quem interessa o novo horário?

Por Felipe Bianchi*

"Você não odeia as segundas-feiras, você odeia o capitalismo"

O nome escolhido pela _Globo_ CBF para a novidade é emblemático: “Segunda campeã”. Qualquer coincidência com um dos slogans mais consagrados da SporTV (“O canal campeão”), da cadeia Globosat, provavelmente é mera coincidência. Vamos aos fatos:

Estádio lotado

É louvável o comparecimento massivo da torcida do Leão a despeito da situação da equipe na tabela, brigando contra a zona do descenso. Mas é difícil concluir que o jogo às segundas é um sucesso apenas pelos números desta partida. Afinal, a diretoria do Sport praticou preços promocionais, com ingressos variando de R$ 10 a R$ 60 para os locais. O público visitante (2.250 palmeirenses) pagou R$ 15 pelo bilhete.

Enquanto isso, o Fluminense enfrentou o Ypiranga-RS nesta quarta-feira (6), pela Copa do Brasil, sob os olhares de apenas 492 pagantes. Tudo bem que o jogo foi em Volta Redonda, mas o contraste é significativo. Será que a realidade vivida na Ilha do Retiro será regra? Ou apenas exceção?

Entre 'amigos'

Talvez o jogo de futebol às segundas-feiras não atenda aos interesses do torcedor, mas definitivamente atende aos da Rede Globo. Detentora monopólica dos direitos de transmissão do Brasileirão, a empresa parece ter se privilegiado bastante com a novidade. É que logo após a partida, os personagens do jogo vão direto ao estúdio móvel do programa Bem, Amigos, apresentado por Galvão Bueno e exibido ao vivo pela SporTV.

Na estreia, os escolhidos foram os jogadores Gabriel Jesus e Diego Souza, de Palmeiras e Sport, respectivamente, além do treinador Cuca, da agremiação paulista. Sim, escolhidos. O twitter do “canal campeão” promove pesquisa em tempo real para saber quem o _consumidor_ torcedor deseja ver sendo sabatinado, sem sequer ter tirado chuteiras e meiões e tomado uma ducha.

Vazar um papo em off pode, Arnaldo?

Apesar da regalia oferecida pela CBF, que deixa a Globo explorar, deitar e rolar em cima de seu produto, a emissora conseguiu pisar na bola. É que no dia seguinte, terça-feira (5), o Globo Esporte exibiu, na televisão e em seu portal, um trecho de conversa em off do técnico Cuca com Diego Souza.

Na 'resenha', Cuca pergunta ao jogador se o Santos, próximo adversário da equipe alviverde, é superior ao Palmeiras. Diego Souza responde no mesmo tom, ambos discretos. Um papo absolutamente informal, por trás das câmeras, que terminou escancarado pela Globo provavelmente sem a autorização dos envolvidos, rompendo claramente com um dos preceitos básicos do jornalismo. Vale tudo pela audiência?

Cabe citar que, após repercussão negativa, a Globo publicou desculpas pelo vazamento.

Cultura do futebol à mercê do monopólio

Há quem tenha gostado do novo horário apresentado pela Globo e pela CBF – fica aqui, nesta coluna, a sugestão para que o horário das 20 horas seja também praticado para os jogos que ocorrem às 22 horas de quarta-feira, por que não? Mas para além da opinião pessoal sobre se o jogo às segundas é bom ou ruim, 'bacana' ou não, fica claro, mais uma vez, o poder de interferência da Rede Globo – ou no português claro, de mandar e desmandar – no futebol brasileiro.

Se é bom para o trabalhador pagar ingresso e demais custos de um jogo de futebol em plena segunda ou se é péssimo para os torcedores visitantes que viajam para acompanhar seus clubes do coração, parecem ser questões secundárias. Talvez a principal indagação que devemos fazer é: se houvesse concorrência e transparência na disputa dos direitos de transmissão, será que todos poderiam exercer esse poder absolutamente sem limites sobre o nosso futebol, como a Globo o faz?