No limiar de um novo ciclo  

A luta contra o impeachment da presidenta Dilma tem sido sem tréguas e se aproxima do seu desfecho do Senado. Ainda que sob correlação de forças adversa, resta uma chance da conversão ao campo democrático de 5 a 6 senadores para que os 2/3 necessários não se confirmem. Se Dilma recuperar o mandato, no entanto, há uma crescente consciência de que dificilmente terá condições de governabilidade.

No limiar de um novo ciclo - Divulgação

Luciano Siqueira (*)

Daí a busca de uma saída negociada para a grave crise política institucional na qual estamos metidos, com a participação decisiva da própria presidenta e mediada pela ausculta à população.

A realização de um plebiscito destinado a deliberar sobre antecipação das eleições presidenciais ganha crédito como uma forma viável, podendo não apenas unificar todas as forças do campo democrático, incluindo os segmentos mais representativos dos movimentos sociais, como atrair parcelas dos que hoje se aliam ao presidente interino Michel Temer.

Nada fácil, nunca é demais repetir, porém factível através de tratativas despidas de sectarismo e ressentimento.

O que está em jogo são os interesses maiores da nação e a preservação da democracia conquistada com tanto sacrifício e luta pelos brasileiros. E, a depender dos desdobramentos, talvez até a continuidade do ciclo de transformações iniciado em 2003.

Entretanto, se confirmado o impeachment, sofreremos as agruras de um governo Temer visceralmente comprometido com a oligarquia financeira e com o que há de pior na elite dominante. O Brasil será enxergado pelas lentes invertidas do binóculo da Avenida Paulista.

Tomará corpo novo ciclo político, agora marcado pela regressão neoliberal.

Isto posto, importantes ajustes táticos se imporão às forças democráticas e populares. Dentre elas, o PCdoB – que se distingue pela abordagem do momento presente sob o prisma programático -, hoje fortalecido pelo protagonismo alcançado na luta contra o impeachment e de crescente audiência junto aos variados segmentos do campo democrático e popular.

Os comunistas terão a sua contribuição assentada em dois pilares: a atualização da plataforma destinada a unir o campo oposicionista e resistir ao retrocesso neoliberal; e a continuidade da articulação entre a ampla mobilização dos trabalhadores e setores médios, pela base, e a ação na chamada “grande política”, sempre marcada pela amplitude, flexibilidade e ousadia – para recuperar para o âmbito democrático e popular alianças ao centro, sem as que não será possível lutar sob correlação de forças menos adversa.

Tanto a intensa ação de massas com uma perseverante articulação "por cima”, são mediadas pelo nível real da luta.

Feita esta breve especulação, cabe insistir até a undécima hora para evitar a confirmação do impeachment no Senado.

A luta segue sempre — sob quaisquer circunstâncias.

(*) Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e dirigente estadual e nacional do PCdoB.