Lu Castro: Pelo fim da Regra 11 contra a mulher brasileira

Antecipando o movimento de coletivos feministas como o Olga Esporte Clube, que, assim como eu, acreditam que à frente de um possível Departamento de Futebol Feminino na CBF é necessária e legítima a presença de uma mulher, a Federação Paulista de Futebol anunciou nesta segunda-feira, 11, a escolha da ex-capitã da seleção e então supervisora da equipe feminina do Corinthians, Aline Pellegrino, para o comando do departamento recém-criado na entidade.

Por Lu Castro*

Aline Pellegrino na sede da Federação Paulista de Futebol

A novidade apanhou a todos os envolvidos com a modalidade de surpresa e, além de trazer um sopro de esperança na condução e atenção do assunto dentro da Federação, nos traz uma mensagem importante e poderosa: Não é mais possível afastar a figura feminina de seu importante papel como líder em ambientes antes prioritariamente masculinos.

A Federação Paulista de Futebol surpreende não só pela criação do departamento. Há sempre um homem na posição de caudilho quando o assunto é futebol feminino. Há uma resistência crônica em abrir espaço para que as mulheres que um dia estiveram dentro de campo, assumam posições de liderança fora dele. O argumento, esvaziado, persiste: “é preciso que elas se preparem, estudem, se especializem”.

Ora, será que alguém tem a decência de nos apontar com precisão que TODOS os técnicos/coordenadores/gerentes/presidentes/ou qualquer outro cargo futebolístico que o valha de TODOS os tempos, tenham se especializado, estudado, preparado dentro dos parâmetros que tem sido exigidos das mulheres que pleiteiam cargos de comando?

Que fique claro: não estou defendendo a inércia no aprendizado, quero apenas entender se estas mesmas exigências foram feitas a todos os homens que passaram pelo futebol brasileiro. Creio que seja uma pergunta bastante pertinente.

Interessante observar o passo histórico dado pela Federação Paulista, em contraponto com o momento em que nefastos seres empesteiam Brasília e tentam alijar a presidenta Dilma.

Se de um lado presenciamos e acompanhamos atônitos a ingerência e a irresponsabilidade de quem se comportou como Judas e tem deixado a marca do retrocesso em tudo quanto pôs as sujas mãos até o momento, de outro observamos uma senhora de 75 anos de idade, com um histórico de tratamento pífio ao futebol feminino, abrindo um espaço especialíssimo e necessário para o futebol das mulheres. E a cereja deste bolo foi a escolha da Aline Pellegrino para o comando.

De acordo com o Censo de 2010, as mulheres correspondem a 51% do total da população brasileira. Com um dado estatístico tão simples em mãos, é razoável compreender que ocuparemos espaços antes restritos aos homens e, mais do que isso, temos demonstrado competência para desempenhar as mais variadas funções. Temos buscado o aprimoramento nas áreas em que nos propomos atuar e no futebol isso não é diferente.

A verdade é que nós nascemos impedidas, como se nunca soubéssemos nos colocar em posição regular. A Federação Paulista de Futebol começou a equalizar este jogo.