Fala de Renan provoca tumulto e sessão do impeachment é suspensa 

A fala da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), indagando “Qual é a moral desse Senado para julgar a presidenta da República?”, que provou tumulto na sessão de ontem (25), ainda repercutiu na sessão desta sexta-feira (26), obrigando o presidente da sessão de julgamento do impeachment, Ricardo Lewandowski, a suspender a sessão. Os trabalhos serão retomados às 13 horas. 

Fala de Renan provoca tumulto e sessão do impeachment é suspensa - Agência Brasil

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que acompanha o julgamento do impeachment ao lado de Lewandowski , presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que é quem preside a sessão, desceu para falar ao microfone no plenário da Casa. A proposta era pedir aos colegas que suspendesse os debates para ouvir as testemunhas, mas em meio a sua fala, criticou a senadora Gleise Hoffmann sobre sua declaração do dia anterior, de que o Senado não tem moral para julgar a presidenta Dilma.

A reação dos senadores foi imediata, com o senador Lindberg Farias (PT-RJ) se aproximando de Renan para recharçar a denúncia de que Gleise é que responde a processo de corrupção. Renan afastou-o com a mão espalmada. Antes que a situação piorasse, Lewandowski suspendeu a sessão, antecipando a pausa para o almoço.

Sem moral

A primeira sessão de julgamento do impeachment, nesta quinta-feira (25), foi marcada por acusações dos aliados do presidente ilegítimo Michel Temer contra os defensores da presidente eleita Dilma Rousseff, de que eles estavam fazendo “chicana” e tentato protelar o processo ao apresentar questões de ordem.

A cada questão de ordem apresentada por senadores contrários ao golpe – um direito garantido da defesa –, a base do governo provisório reclamava no plenário, sempre tentando tolher as opiniões dos que se opõem ao golpe. Nenhum desses momentos, porém, mexeu mais com os brios dos golpistas do que a intervenção da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), quando ela apontou que metade da Casa não tem moral para julgar a presidenta Dilma.

“Aqui (no Senado) não tem condições de ninguém acusar ninguém e nem de julgar. Por isso que a gente diz que (o julgamento do impeachment) é uma farsa. Qual é a moral desse Senado para julgar a presidenta da República? Qual é a moral que tem os senadores aqui para dizer que ela é culpada? Gostaria de saber qual é a moral de vocês, por que a metade aqui não tem!”, destacou a senadora.

No mesmo instante, os que apoiam o golpista Temer reagiram com ofensas e o dedo em riste contra a petista. Após a cena, Lewandowski suspendeu os trabalhos por alguns minutos.

Quando a sessão foi retomada, Gleisi destacou que é um direito da defesa apresentar questões políticas ao plenário. “Até porque, desde o início, temos dito que esse é um processo que necessita de base jurídica para se fundamentar e que temos aqui é um julgamento eminentemente político”, disse.

Blindagem de Temer

As falas da senadora foram motivadas pela histeria da base aliada de Temer após a apresentação de uma questão de ordem pelo líder da Minoria no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ). O pedido era que o julgamento fosse suspenso até a análise de uma representação, apresentada à Procuradoria-Geral da República (PGR), pedindo o afastamento de Temer do cargo – isso até que fossem investigadas as citações a ele por delatores na Operação Lava jato.

O petista lembrou que a discussão é sobre uma “blindagem” a Temer. “Se a presidenta Dilma for afastada e o presidente interino Michel Temer virar presidente da República, ele não pode ser investigado pelos fatos anteriores a esse mandato”, lembrou o parlamentar.

Enquanto apresentava a questão de ordem, Lindbergh destacou ainda o medo do governo interino de uma eventual delação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Daí o motivo da base aliada tentar acelerar o julgamento de Dilma Rousseff. “Todo mundo aqui sabe, cada Senador, que, se Eduardo Cunha abrir a boca, cai Temer. Eram sócios. E tanto é que eles estão fugindo ao máximo da cassação do Eduardo Cunha”, disse o senador.

A senadora Gleisi Hoffmann anunciou não vai retirar dos anais da sessão a sua fala em que diz que “o Senado não tem moral para julgar qualquer crime de responsabilidade contra a presidenta Dilma porque é uma mulher honesta e honrada”.