Estudantes paralisam escolas contra reformulação do ensino médio

Unidos à luta dos professores e dos trabalhadores, os estudantes realizaram nesta quinta (22), o Dia Nacional de Paralisação e Mobilização. Com ação em suas escolas, os jovens falam sobre o anúncio do Ministério da Educação que anunciou a reformulação do Ensino Médio por meio de uma Medida Provisória (MP), sem diálogo com os movimentos educacionais.

Estudantes paralisam escolas contra reformulação do ensino médio - Reprodução

“A reformulação não pode ser aprova por meio de uma simples medida provisória, a ideia do governo é cortar investimento, tirar disciplinas e fragmentar nossa formação, o que colocará em segundo plano a formação cidadã e formando mão de obra barata. É contra isso que lutamos, nossa resposta será paralisação de escolas com luta conjunta contra o PL da Mordaça”, declarou o diretor da UPES, Daniel Cruz.

Paralisação de escolas públicas

Depois de participar da paralisação da escola onde estudam, a estadual Lauro Pereira Travassos, localizada na zona sul de São Paulo, as secundaristas Jéssica Moreira e Merciane Faria, ocuparam o Vão Livre do Masp, na Avenida Paulista, em ato que pautou também a luta contra o modelo de reformulação anunciado.

“Na última semana organizamos com o grêmio uma ação na escola para que viéssemos ao ato nessa quinta de paralisação. Somos estudantes da periferia, precisamos de acesso, de formação de qualidade, mas o que acontece é o contrário, além da reformulação do ensino médio que ataca diretamente importantes disciplinas, duas turmas do noturno foram fechadas”, contou Merciane, com apoio da colega.

“Temos direitos e temos que lutar por eles, não vamos aceitar que o governo mexa neles”, completou Jessica.

No dia 22, também paralisou o colégio Basílio Machado, onde estuda Fernanda Barros, do 2º ano. A secundarista, que pretende ingressar na universidade para cursar Ciências Sociais, diz que a ameaça de tornar optativa a disciplina de sociologia do currículo coloca em risco seu futuro como cidadã consciente e como profissional.

“Paralisamos sim e isso é muito justo, afinal, esta MP é uma ameaça ao nosso direito de pensar. Tornar optativas disciplinas como sociologia, filosofia e história, nos leva a perder a noção básica da sociedade que vivemos. Teremos eleitores burros criados pelas escolas, enquanto, na verdade, nós estudantes deveríamos participar dessas decisões”, argumentou.

Alerson de Melo, 19, diretor da UPES, também ressalta o momento de resistência em todo Brasil. “O Brasil parou nesse dia 22, é uma luta conjunta que tem como intenção não deixar a reformulação do ensino médio e o sucateamento da educação serem concretizadas. Vamos mobilizar o contexto da escola, criando um consenso contra a ofensiva ao pensamento crítico”, disse.

Em nota, a UBES também repudiou a medida arbitrária que representa uma ameaça de desvalorização de disciplinas responsáveis pela formação cidadã do estudante como arte, educação física, filosofia e sociologia que desenvolvem o pensamento crítico.

A primavera secundarista resiste 

Bárbara Harry tem apenas 14 anos e também paralisou as aulas em sua escola no dia de paralisação nacional. A jovem da periferia da zonal sul paulista relembra que sua escola, a Escola Estadual Diadema, foi a primeira a iniciar a série de ocupações que lutava contra o projeto de reorganização escolar no estado, em novembro de 2015. Novamente compondo as manifestações, a secundarista conta sobre não aceitar novos retrocessos na educação.

“Durante as ocupações, sofremos muita repressão da polícia. Antigamente eu até tinha medo, mas de lá pra cá, ganhamos força, hoje eu venho pra luta sem medo, e nela permanecerei”, enfatizou.

Em Caraguatatuba, no litoral paulista e interior do estado outras escolas foram paralisadas. “Não houve ocupação, mas sim paralisação em repúdio à flexibilização do currículo que atacará diretamente a área das ciências humanas, que desenvolve o pensamento crítico”, diz Thalisson dos Santos, 17, relembrando a luta dos profissionais da educação que também somam às lutas estudantis.

O debate sobre reformulação tem mobilizado estudantes também do ensino fundamental. Lucas Rodrigues, de apenas 14 anos, conta que ainda não participou de nenhuma conversa sobre o assunto na Salvador Allende, escola da zona leste, onde estuda. “Ainda não entendo sobre como será feito, mas vamos nos unir aos professores para combater o autoritarismo e a desvalorização da educação que queremos participar da discussão”, concluiu.

Ocupações em São Paulo e no Paraná 

Estudantes voltam a ocupar escolas em diferentes estados do Brasil contra o desmonte da Educação. Na noite desta quarta-feira (21), o Instituto Federal de São Paulo, no campus Guarulhos, foi a primeira unidade a iniciar ocupação contra a PEC 241. Os secundaristas exigem mais investimentos e se posicionam contra a proposta do governo que pretende congelar o gasto público pelos próximos 20 anos, medida que resultará em cortes diretos no orçamento da educação, nos direitos dos trabalhadores e em áreas sociais.

No Paraná, estudantes do Colégio Antônio Francisco Lisboa, do município de Sarandi (PR), ocuparam a primeira escola no Estado contra o desmonte na educação e são recepcionados com truculência policial. No vídeo uma menor de idade é contida com violência e conduzida até o carro dos policiais. De acordo com relatos, os estudantes haviam acabado de iniciar o ato, às 12h desta sexta-feira (23), quando policiais militares chegaram agredindo os secundaristas.

A PEC, que engessará investimentos em políticas sociais, coloca em risco a execução do Plano Nacional de Educação (PNE), projeto aprovado em consenso no Congresso Nacional e que estabelece metas como a oferta de educação integral no ensino médio.