Fernando Brito: O pequeno ditador mostra as garras: “não admito!”

A reação brutal de Michel Temer – com o apoio dos empresários – à possibilidade de questionamento judicial à sua emenda constitucional que acaba com a destinação mínima de recursos à educação e à saúde deveria ser um choque para a Procuradoria Geral da República e para o Supremo Tribunal Federal, a quem cabe decidir sobre se é ou não admissível retirar da Carta estes percentuais.

Por Fernando Brito*, no Tijolaço

Temer diz que não se importa com impopularidade cada vez maior - www.pragmatismopolitico.com.br

Ou caberia, porque o homúnculo do Planalto já disse que “não admite” que seu projeto não seja implementado, obrigando os próximos cinco governos (a PEC tem duração de 20 anos, uma geração) não possam destinar parte maior dos recursos para escolas, hospitais, postos de saúde, vacinações, etc…

O “não admito” de Temer é um ultimato à PGR e ao STF, e um estranho prêmio à passividade e até a cumplicidade com que ambos se portaram diante do golpe de Estado no Brasil.

Nem um nem outro têm mais estatura moral para reagir ao arreganho de poder, porque sabem que os canhões da mídia, que eles próprios adularam, estão todos apontados contra quem quiser barrar esta monstruosidade.

Alguém consegue imaginar como o mundo viria abaixo de fossem Dilma ou Lula quem dissesse “não admito!” a uma manifestação da Procuradoria Geral da República? “Chavistas, bolivarianos, comunistas, desrespeitadores das instituições democráticas!”.

Mas talvez esteja aí o que a ministra Carmem Lúcia um dia invocou como desejo: que os “homens bons” tivessem, como na frase de Nélson Rodrigues, “a ousadia dos canalhas”.

Ou não foi ela quem disse que “os brasileiros de bem precisam ter a mesma ousadia dos canalhas para ajudar a tirar o país da crise político-econômica-financeira pela qual passa o Brasil”?

Aí está, ministra, o “homem bom”, que vai “salvar o Brasil” como um “Robin Hood às avessas” tirando dos pobres para dar aos rentistas tem, não se pode negar, a ousadia dos canalhas.

E o senhor Rodrigo Janot, sempre pronto a ser ríspido e grosseiro contra os que sempre o respeitaram, vai reagir ao fato de que a manifestação dos procuradores contra a emenda seja publicamente açoitada como “inadmissível”?

Dificilmente irão além de alguns gaguejos inaudíveis, porque a máquina já falou.

A Câmara já está posta na algibeira do Planalto, com a ajuda de governadores convertidos em pedintes e loucos para, também eles, se livrarem da obrigação de gastar com saúde e educação. Afinal, a “salvação nacional” bem pode ser a “salvação estadual”.

As ditaduras começam sempre assim, para “salvar o Brasil”. Sabemos bem a quem salvam e quem são as suas vítimas.