Apoio de Reino Unido e EUA é essencial aos crimes de guerra sauditas

O bombardeamento de sábado (8), em Saná, foi um dos mais violentos e mortíferos levados a cabo pela aviação saudita desde o início da ofensiva contra o Iêmen, há 18 meses. Estas atrocidades contam com o envolvimento britânico e dos EUA.

centro comunitário bombardeado em Saná - Common Dreams

Casas, escolas, hospitais, mercados, fábricas – todas estas infra-estruturas civis têm sido atingidas pelos ataques aéreos da coligação liderada pela Arábia Saudita, no contexto da guerra de agressão contra o Iêmen iniciada em março de 2015. O objetivo declarado é recolocar no poder o presidente, já deposto, Rabbuh Mansur Hadi, apoiado por Riad e Washington.

Diversas instâncias internacionais, incluindo as Nações Unidas (ver The Guardian de 27 de janeiro de 2016), têm denunciado estas ações contra alvos civis no Iêmen – uma condenação que a ONU reiterou este domingo, depois de, no dia anterior, as forças lideradas pelos sauditas terem cometido um dos piores massacres na sua ofensiva: bombardearam, de forma repetida, um centro comunitário, na capital do país, onde se estima que milhares de pessoas estivessem reunidas para participar num funeral, matando mais de 140 e ferindo mais de 520.

Apoio norte-americano e britânico

Com base em fontes próprias e referindo-se a informação divulgada no The Guardian e no New York Times, o portal The Intercept afirma que "as atrocidades cometidas pelos sauditas não seriam possíveis sem o apoio constante, agressivo" dos EUA e do Reino Unido.

"Desde o início, os sauditas, apoiados pelos EUA – e o Reino Unido –, bombardearam os civis de forma indiscriminada e, por vezes, deliberada, matando milhares de pessoas inocentes", lê-se numa peça publicada ontem em The Intercept. E acrescenta-se: à medida que prosseguiam os bombardeamentos dos sauditas sobre os civis, "o armamento norte-americano e britânico continuava a ser enviado para Riad, garantindo que os massacres sobre os civis continuavam".

Negócio de muitos milhões

A mesma fonte refere que, durante a ofensiva contra o Iêmen, os EUA venderam à Arábia Saudita armamento no valor de US$ 20 bilhões e que, em Novembro último, a Casa Branca aprovou a venda de um novo pacote, por US$ 1,29 bilhões.

Ao longo do seu mandato, o presidente Obama, a quem foi atribuído o Nobel da Paz em 2009, vendeu aos sauditas armamento no valor de US$ 115 bilhões – mais do que qualquer outro presidente norte-americano. Contudo, após o massacre de sábado em Saná, a Casa Branca veio a público afirmar que "a cooperação dos Estados Unidos com a Arábia Saudita não é um cheque em branco".

Obama foi alertado

De acordo com uma notícia ontem publicada pela Reuters, que teve acesso exclusivo a documentos e a e-mails de funcionários governamentais, a Administração norte-americana decidiu avançar com o negócio de venda de armas à Arábia Saudita em Novembro último, apesar de Obama ter sido avisado de que os Estados Unidos poderiam vir a ser acusados de "crimes de guerra" pelo apoio dado à campanha saudita no Iêmen.

Por outro lado, refere-se que os advogados da Administração Obama não chegaram a uma conclusão sobre o estatuto de "co-beligerância" dos EUA no conflito à luz do direito internacional. Esse estatuto "obrigaria Washington a investigar alegações de crimes de guerra no Iêmen", entre outros riscos, "pelo menos em teoria", lê-se na Reuters.

Independentemente destas incertezas, é óbvio que todo o apoio norte-americano – e britânico – dado à campanha saudita no Iêmen tornam estes países cúmplices das atrocidades cometidas pela Casa de Saud.