Italianos constroem barricadas contra chegada de refugiados

Dezenas de moradores de Gorino, na região de Goro, costa adriática da Itália, se amotinaram contra a chegada de refugiados e construíram barricadas para impedir a passagem de um ônibus que levava 12 mulheres com seus oito filhos, segundo informou nesta quarta-feira (26) a agência italiana Ansa.

Entrada de Gorino, na Itália

A chegada dos refugiados tinha sido autorizada pelo representante do estado em Ferrara, Michele Tortora. Para ajudar a sanar a crise imigratória que atinge toda a Itália, um dos países considerados porta de entrada para a Europa.

Tortora já tinha tomado a decisão há tempos. Mas somente na tarde anterior os moradores da província de Ferrara, na região da Emilia-Romana, souberam da chegada do ônibus de refugiados e se agitaram para impedi-lo.

Uma dúzia de pessoas passou a destruir partes da estrada e juntar objetos para formar uma barricada na estrada. O protesto se prolongou durante a noite de segunda-feira. Só foi solucionado depois de providências tomadas pelas autoridades municipais.

O ônibus conduzia ao todo 12 refugiadas, uma delas grávidas e elas estavam seguindo hospedadas com seus filhos para um hotel de Gorino, um povoado de 600 habitantes. Alguns outros refugiados se juntariam ao grupo posteriormente.

As refugiadas são africanas, de países como Nigéria, Nova Guiné e Costa do Marfim, e precisaram ser realocadas e enviados para Comacchio, Fiscaglia e Ferrara.

Mesmo com o acordo, alguns moradores da província ainda estão irritados. Os pescadores de Ferrara chegaram a proferir infâmias, como a de que farão greve nos próximos dias e não enviarão seus filhos à escola. “Me envergonho muito do que aconteceu em Ferrara", teria dito um pescador local.

"Essas pessoas que impediram o acolhimento de crianças e mulheres também devem se envergonhar”, reprovou o chefe do departamento de imigração do Ministério do Interior da Itália, Mario Morcone.

A Itália recebeu mais de 153 mil imigrantes este ano. O número é 10% superior à quantidade de pessoas que chegaram à Itália pelo Mar Mediterrâneo durante todo o ano de 2015.

Há anos, a Itália, por estar localizada no Mar Mediterrâneo e próxima da costa africana, recebe diariamente dezenas de embarcações com refugiados que tentam chegar à Europa para sobreviver.

O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, defende a política de acolhimento e apoio aos imigrantes, ao mesmo tempo que procura apoio de outros países da União Europeia para compartilhar a responsabilidade. Muitos imigrantes querem apenas passar pela Itália, já que procuram refúgio em outros países do bloco.

A extrema-direita festejou cinicamente a atitude da dúzia de italianos que fechou a estrada com barricadas. "Obrigado a todos que se manifestaram na noite de ontem, obrigado a quem lutou para que a democracia e o bom senso vencessem", diz um comunicado no site, que não poupa hipocrisia ao usar as palavras "democracia" e "bom senso".