O Dia do Saci foi criado para combater a invasão cultural imperialista
Um dos fundadores da Sociedade dos Observadores do Saci (Sosaci), o escritor e jornalista Mouzar Benedito afirma que a ideia de comemorar essa data surgiu como contraponto à “invasão do Halloween” no país.
Por Marco Aurélio Ruy
Publicado 31/10/2016 12:00
O Dia do Saci surgiu em 2003 e hoje é comemorado em São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo, e em diversos municípios do país. A cada ano cresce o número dos seguidores do Saci.
Para ele, é muito importante disseminar os nossos mitos para combater o preconceito com conhecimento. “Ocorre atualmente no Brasil uma desvalorização de tudo o que é brasileiro, justamente para defenderem a submissão ao capital estrangeiro.”
Dessa forma, “nada que é nacional serve. A Petrobras não pode existir e a exploração do nosso petróleo tem que ser feita por empresas do Hemisfério Norte”. Benedito ressalta ainda que para o governo golpista “a cultura não tem importância nenhuma, mas para nós é por onde se dá grande parte da resistência à destruição de nossos direitos”.
O texto de apresentação da Sosaci afirma o respeito pelas mitologias estrangeiras, mas defende a valorização dos mitos brasileiros, o Saci entre eles. Esses mitos importados, como o Halloween, “são usados para anestesiar a autoestima do nosso povo. Respeitamos os mitos dos outros, mas não queremos que eles sejam usados pela indústria cultural como predadores dos nossos”.
E complementa: “O Saci, a Iara, o Boitatá, o Curupira, o Mapinguari e muitos outros brasileiros legítimos estão aí para serem festejados, sem espírito comercial, como nossos legítimos representantes no mundo do imaginário popular e infantil”.
De acordo com Benedito, a dominação de um povo, começa pela destruição de sua cultura. “Os colonizadores europeus quando chegaram no continente americano passaram a demonizar a mitologia indígena, colocando a sua cultura como superior.”
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Ele cita o Jurupari, mito da Amazônia, dicionarizado como o “senhor dos pesadelos”, uma espécie de demônio, quando na verdade ele é “um Deus indígena que transmite conhecimento e estabelece algumas regras como a de não poder bater em criança e em mulher”, afirma. E quem “desrespeita essas regras é castigado com pesadelos. Imagine você se isso ocorresse na sociedade brasileira?”
Os organizadores da Sosaci veem a cultura popular como “um elemento essencial à identidade de um povo. As tentativas insidiosas de apagar do imaginário do povo brasileiro sua cultura, seus mitos, suas lendas, representam a tentativa de destruir a identidade do nosso país”.
Benedito lembra ainda que em 2007, uma procuradora da República cobrou das autoridades de São Luiz do Paraitinga sobre o porquê da não comemoração do Dia do Saci, que havia sido oficializado na cidade e a resposta foi que “os professores não sabiam nada sobre o Saci. Mas também não sabem nada do Haloween e paradoxalmente comemoravam”.
Na atual conjuntura de ampla mercantilização da cultura no mundo todo, “corremos o perigo de ascensão do fascismo. Na década de 1930, nasceu o fascismo e o nazismo como resposta à crise que se vivenciava e todo mundo sabe no que deu”, afirma Benedito.
Ele explica que a resistência a todo tipo de opressão começa pela resistência cultural. “A dominação começa pela cultura. Pela destruição da identidade cultural de um povo, por isso, inclusive, se ataca a educação pública democrática e ampla.”