Uma fundadora da literatura brasileira: Maria Firmina dos Reis
O Maranhão é um estado que deu marcante contribuição à literatura e à cultura em nosso país. Qualquer lista que se faça, de autores ou produtores culturais lá nascidos ou atuantes, será extensa. Desde pelo menos o século 19, quando a capital, São Luís, ganhou o apelido de “Atenas brasileira” devido ao desenvolvimento cultural que lá ocorreu.
Por José Carlos Ruy
Publicado 09/12/2016 12:50
As listas de autores e produtores culturais é enorme. E tem a particularidade destas listas em sociedades dominadas pelos seres humanos do sexo masculino: a presença de mulheres nelas é escassa! Não que não existam autoras merecedoras de figurar nestas listas! Elas são feitas de acordo com os preconceitos dominantes, e impedem que mulheres, negros, gente pobre do povo figurem nelas, onde só cabem os bem nascidos de pele clara e educação “refinada” – os dominantes ou quem serve a eles, em suma.
Se for mulher e negra, então nem se fale! O destino mais provável para seus nomes é, na maioria das vezes, sobreviver na memória do povo mas raramente na documentação escrita da oligarquia.
O melhor exemplo é o da escritora, negra e abolicionista Maria Firmina dos Reis (São Luís/Ma, 1825-1917). Ela publicou um grande romance em 1859, intitulado Úrsula, e deveria figurar em todas as listas dos fundadores da literatura brasileira.
Mas a forte hegemonia masculina não permite o reconhecimento de que a primeira romancista brasileira foi esta maranhense – mulher, negra, pobre, abolicionista. Seu romance defendia o fim da escravidão e a igualdade de gêneros. E, ao longo da vida, Maria Firmina dos Reis também se destacou como republicana.
Seu romance devia figurar entre os textos inaugurais da história literária brasileira não como uma curiosidade do passado, mas pela qualidade de sua escrita, que antecipa um nome que, publicando meio século depois, também ficaria sob a sombra do preconceito durante muito tempo: Lima Barreto.
Maria Firmina dos Reis deu voz aos escravos e, dessa maneira, mostrou sua importância “enquanto sujeitos históricos e pessoas capazes de através de pequenos gestos, contra atacar o poder patriarcal”, diz Aline Eiko Hoshiro no ensaio A figura de mãe Susana na obra Úrsula de Maria Firmina dos Reis em 1859 – texto apresentado ao 20º Encontro Regional de História: História e Liberdade. Anpuh/SP, UNESP (Franca), 2010. Veja aqui.