Jackson Sampaio e Mileide Flores: Despedida da Livraria Feira do Livro

“A família que coordenou o périplo das Livrarias Feira do Livro permanece unida e se mantém militante na luta por um país de leitores críticos e emancipados. Quem sabe, assim, tomamos gosto por nós mesmos, subvertemos o complexo de povo vira-lata, mudamos o perfil de nossos políticos e de nossas políticas, enfrentamos a perversa distribuição de riqueza e consolidamos nossa democracia”.

Por * Jackson Sampaio e Mileide Flores

Livrarias Feira do Livro

Nascida em 1956, como banca de revista na Praça do Ferreira, as Livrarias Feira do Livro fixaram-se em 1958 na esquina das ruas Liberato Barroso e Floriano Peixoto, expandiram-se com filiais por Sobral, Crato, Iguatu e Mossoró, retraíram-se ao sabor das ditaduras e das crises econômicas brasileiras, mudaram de sede para a av. Gomes de Matos, em 1994, e, por fim, se reinventaram na rua Benjamim Girão, em 2004. O percurso de 60 anos foi liderado por Manoel Raposo, José Júlio Sampaio e Mileide Sampaio Flores. Agora, decide encerrar seu percurso.

No labirinto da memória, a saudade traz a lembrança de Jorge Amado e de Jáder de Carvalho realizando concorridos lançamentos de romances, da presença de Sartre & Simone em debates vibrantes, das multidões disputando livros nos períodos escolares, do lançamento da revista O SACO, e da reinvenção, no Montese, por meio do Movimento Caixeiro-Viajante de Leitura, dos encontros semanais da Vila do RPG e do Quintal Literário, resgatando história de resistência focada na responsabilidade social, cultural, educacional e econômica do livro.

Este momento, sem ressurreição à vista, é de despedida das editoras, distribuidoras, escolas parceiras e dos proporcionalmente poucos cidadãos leitores que a pátria brasileira tem tido dificuldade estrutural, política, econômica e cultural de ampliar o número. Portugal tem 15 milhões de habitantes e tiragens médias de 10 mil exemplares, por título. O Brasil tem 205 milhões de habitantes e tiragens médias de dois mil, salvo o nicho dos best sellers.

A família que coordenou o périplo das Livrarias Feira do Livro permanece unida e se mantém militante na luta por um país de leitores críticos e emancipados. Quem sabe, assim, tomamos gosto por nós mesmos, subvertemos o complexo de povo vira-lata, mudamos o perfil de nossos políticos e de nossas políticas, enfrentamos a perversa distribuição de riqueza e consolidamos nossa democracia. As Livrarias Feira do Livro serão, no Ceará, um capítulo bom desta história.

*José Jackson Coelho Sampaio é professor titular em Saúde Pública e reitor da Uece / Mileide Sampaio Flores é livreira e coordenadora da Política de Livro, Leitura e Biblioteca da Secult

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