Morte de Dom Evaristo Arns repercute em todo o mundo

A morte do arcebispo emérito de São Paulo, cardeal dom Paulo Evaristo Arns, aos 95 anos, nesta quarta-feira (13), tem repercutido na imprensa internacional. A trajetória de Dom Paulo Evaristo Arns, marcada pelo seu compromisso com a democracia e com as pessoas mais necessitadas, tem sido destaque na mídia, assim como sua atuação contrária a ditadura militar instalada no Brasil nas décadas de 60, 70 e 80.

Dom Paulo Evaristo Arns

O jornal americano Washington Post lembrou que o cardeal era uma das vozes mais proeminentes da Igreja Católica na América Latina e morreu após travar uma longa luta contra problemas pulmonares e renais. Arns “ficou famoso por desafiar os líderes da brutal ditadura militar de 1964-1985 e pela sua luta contra a tortura na América Latina”.

A rede ABC News, também dos EUA, afirmou que “Arns frequentemente falava sobre valores democráticos durante a Missa, protegia ativistas em suas igrejas e liderava uma iniciativa nacional contra a tortura. Arns também ameaçou excomungar os investigadores policiais que se recusaram a fornecer informações sobre prisioneiros políticos”.

A atuação do Arcebispo no caso da morte do jornalista Vladimir Herzog, torturado durante a ditadura militar, mereceu nota no jornal britânico Daily Mail. Segundo a publicação, “Arns será enterrado na catedral central de São Paulo, onde em 1975 ele organizou um dos atos mais abertos de desafio à ditadura do Brasil, orando com outros líderes religiosos e culpando o regime pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog, preso político do regime. Os oficiais disseram que Herzog tinha cometido suicídio na cadeia, mas Arns rejeitou essa versão durante a missa, apesar da pressão feita por tanques e por soldados fora de sua igreja. Os membros conservadores da igreja e os líderes militares o consideravam um perturbador”.

Na Espanha, o El Confidencial falou que o Cardeal Arns era considerado uma das figuras mais importantes da Igreja católica latino-americana e esteve entre os ‘‘papáveis" que participaram do conclave de 1978, quando foi eleito o Papa João Paulo II.

Já o Clarín, da Argentina, relembrou a trajetória de Arns, ordenado sacerdote franciscano em 1945. Em 1970 assumiu o arcebispado de São Paulo, “a plataforma a partir da qual coordenou ações em defesa dos direitos humanos. Sua ação pastoral foi dirigida em direção aos marginalizados e ao mundo do trabalho. No período da ditadura, ele foi um dos escritores do livro ‘Brasil Nunca Mais’ e ‘Tortura Nunca Mais’ contra os abusos da ditadura. Ele havia recebido em 1977 um doutoramento honoris causa, juntamente com o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, da Universidade de Notre Dame”.

O La Prensa, do Panamá, lembrou do seu trabalho na Pastoral da Infância, em conjunto com sua irmã, Zilda Arns e a versão espanhola da Agência Sputnik destacou os inúmeros prêmios e honrarias recebidos por ele, incluindo o Prêmio Nansen do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Prêmio da Paz Niwano (Japão), Letelier-Moffitt e Prêmio dos Direitos Humanos (Estados Unidos).