Paulo Henrique Amorim: Os atentados explodem na crise europeia

 O jornalista Paulo Henrique Amorim entrevistou Mathias Alencastro, pós-graduado em Oxford e especialista em questões internacionais, sobre os atentados ocorridos em Berlim e Ancara, que apontam para uma nova realidade na política internacional.

Mathias de Alencastro - Reprodução - Conversa Afiada

Segundo Alencastro, a repercussão interna na Alemanha é perigosa, pois pode acirrar o sentimento contra os refugiados, caso o atentado tenha sido cometido de fato por um. Segundo o Estado Islâmico, o objetivo deles na Europa é de atacar as zonas "cinzentas", áreas de convivência entre culturas, entre religiões. A chanceler Angela Merkel terá de defender sua política de abertura, de receber refugiados, que possibilitou a entrada de mais de um milhão de refugiados nos últimos anos.

Já sobre o atentado na Turquia, Alencastro alerta de que ele não é um sinal de que o mundo pode entrar em guerra nas próximas horas. Não é possível compará-lo com o atentado contra o arquiduque austríaco Franz Ferdinand em Sarajevo, herdeiro do império Áustro-Húngaro e que detonou a primeira guerra mundial, segundo o especialista. O atentado pode, no fim das contas, significar uma aproximação maior entre os dois países, Rússia e Turquia, em detrimento da Europa.

Segundo ele, Erdogan acabou se unindo à Putin por causa da mudança no plano nacional turco. A Turquia era um território importantíssimo para a Otan, foi de lá que partiram os ataques contra o Iraque, na primeira guerra contra aquele país nos anos 1990 e depois, com Bush filho, nos anos 2000.

No entanto, a Europa desprezou muito a Turquia, negando ao país a entrada na União Europeia. Isso fez com que o país, lentamente, se afastasse da União Europeia para se aproximar da Rússia, algo que se torna cada vez mais consistente.

Alencastro fala também do que a China tem feito na África. A política externa chinesa no passado na África foi de construção civil, em troca de petróleo. "Como a China mudou sua política nacional, ela passou a usar a África de outra forma. Ela vai agora para lá para usar a mão de obra africana. Deixou de usar os recursos naturais para usar recursos humanos", afirma o especialista.

Veja abaixo a íntegra da entrevista: