Deputado cobra providências aos massacres nos presídios 

O presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara, deputado Padre João (PT-MG) reitera as propostas apresentadas na última terça-feira (10), cobrando do Poder Judiciário e das Defensorias Públicas a realização de imediatos mutirões de verificação da situação do imenso número de presos e presas em situação provisória que superlotam o sistema prisional nos estados e da Agenda Nacional de Desencarceramento, o adequado cumprimento da Lei de Execuções Penais. 

Justiça discute projeto de melhorias no sistema prisional

Após as chacinas que ocorreram nos presídios no Amazonas e Roraima, o deputado defende “um choque de legalidade necessário num sistema corrupto, infrator e ineficaz na educação e reinserção social de presos e presas”. E anunciou que solicitou, em caráter excepcional, ao presidente da Câmara dos Deputados, autorização e apoio logístico para que a CDH possa, durante o recesso parlamentar, dada a complexidade e gravidade dos fatos, realizar diligências e tomar providências para enfrentar essa onda de violência que ameaça o sistema penitenciário.

E defende que “um novo modelo penitenciário é urgente e necessário, e para tanto será necessário um entendimento – mesmo em ambiente institucional conflagrado pelo golpe em curso no país – entre os três Poderes da República para a travessia deste modelo falido e ilegal para um novo modelo, humanizado e de acordo com a Lei de Execuções Penais”.

Descontrole do Estado

“A divulgação pela imprensa de uma carta atribuída ao ‘Alto Conselho do Primeiro Comando da Capital, para região Norte’, anunciando retaliações de facções criminosas aliadas ao massacre de Manaus, e a confirmação de novo massacre com ao menos 33 mortes na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, a maior de Roraima, demonstram estar em curso algo muito mais grave que ‘acidentes pavorosos’ – a infelicíssima expressão do presidente Michel Temer, ao se referir, depois de constrangedor silêncio – aos trágicos episódios de chacina contra presos no sistema penitenciário amazonense”, afirma o deputado.

E denuncia que “o descontrole do Estado brasileiro sobre um sistema penitenciário gerido em conjunto, por ação ou omissão, com o crime organizado, faz novas vítimas em Roraima e ameaça espalhar-se como rastilho de pólvora pelo país, sem uma efetiva coordenação de esforços por parte do governo federal e das instituições do Poder Judiciário”.

Para o deputado Padre Tom, o sistema prisional brasileiro está “entregue a uma forma de gestão cada vez mais tênue por parte do Estado, presos e presas ficam à mercê do crescimento de organizações criminosas que substituem governos e instituições na atenção a seus direitos e, em troca, sob a tutela dessas organizações, ficam mantidos a serviço do tráfico ou de outras formas de atividade criminosa”.

O parlamentar avalia que “a União não pode simplesmente se eximir, como fez o presidente da República, da responsabilidade de liderar a busca da paz no sistema penitenciário e construção de um novo modelo. Informações sobre os fatos de Manaus eram de conhecimento do Ministério da Justiça, tanto por investigações sobre o crime organizado da Polícia Federal quanto pelo relatório de peritos do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT)”.

Sigilo do governo

De acordo com a Conectas Direitos Humanos, “um relatório produzido por peritos do Subcomitê da ONU para a Prevenção da Tortura (SPT, na sigla em inglês) com recomendações ao sistema prisional do Amazonas, onde ocorreu a morte de ao menos 56 pessoas, está sendo mantido sob sigilo pelo governo brasileiro”.

Os especialistas estiveram no Brasil entre 19 e 30 de outubro de 2015 e inspecionaram presídios do Distrito Federal, Pernambuco, Rio de Janeiro e Amazonas. A partir das visitas in loco, o Subcomitê produziu um relatório no qual trata das deficiências das unidades prisionais visitadas e aponta recomendações para a superação do quadro de violações. De acordo com o site oficial do SPT, o governo brasileiro está em posse do documento desde 24 de novembro de 2016.

“Assim, nos somamos à sociedade civil para que o Ministério da Justiça divulgue e cumpra as recomendações da ONU sobre o Compaj (Complexo Penitenciária Anísio Jobim) de Manaus e o sistema penitenciário nacional e informamos que solicitaremos formalmente, por meio de requerimento, que o governo federal nos relate as ações que tomou diante dos dados do relatório”, diz em nota a CDH.