Equador, a capital eleitoral da América Latina em 2017

As eleições presidenciais de 19 de fevereiro no Equador são algo a mais que uma simples disputa eleitoral. Em nível regional, o que está em jogo é a possibilidade do “fim do ciclo”. Se vencer a Revolução Cidadã, não haverá evidência empírica eleitoral que justifique a afirmação de que os processos de mudança no continente chegaram a um ponto final. Mas se perder, então, será difícil argumentar o contrário.

Por Alfredo Serrano Mancilla*

Rafael Correa - Divulgação / Presidência do Equador

Até o momento, na encruzilhada eleitoral presidencial, na América Latina progressista a direita só foi capaz de vencer uma vez nos últimos 15 anos. Lula e Dilma tiveram quatro vitórias no Brasil. Néstor e Cristina Kirchner venceram três vezes na Argeinta e Maurício Macri foi o único que conseguiu ganhar nas urnas como representante da direita. Na Venezuela, entre Hugo Chávez e Maduro foram quatro vitórias. Já Tabaré Vázquez e José Mujica no Uruguai conquistaram três. Evo Morales venceu as últimas três eleições na Bolívia. Na Nicarágua, Daniel Ortega vai para seu terceiro mandato consecutivo e no Equador, até o momento, Correa venceu as últimas três disputas nacionais.

Contudo, este modelo de vitórias eleitorais tem se visto ameaçado nos últimos anos. Tanto no campo político como econômico, houve um refluxo dos processos de mudança. O campo progressista perdeu duas eleições importantes, não presidenciais, mas legislativas: o Congresso na Venezuela e o referendo para mudar a Constituição na Bolívia.

Também é possível notar um certo desgasta no entusiasmo e respaldo das maiorias se comparamos com o comportamento popular de uma década atrás. Entretanto, este desencanto emergente não pode ser traduzido imediatamente em eleições de presidentes de direita nos países de rumo progressista.

É por tudo isso que a disputa no Equador está além das eleições entre dois modelos completamente distintos para o país. Além disso, desta vez, diante da ausência de Rafael Correa como candidato presidencial, também está em jogo a capacidade da esquerda de construir sucessores e lideranças.

Recentemente, na Argentina, a aposta em Daniel Scioli [candidato governista apoiado por Cristina] não saiu bem. Agora no Equador a Revolução Cidadã tem o desfio de vencer sem Correa como candidato. Lenin Moreno [ex-vice-presidente e atual candidato] é quem tem a tarefa de fazer frente aos opositores que representam o mesmo retrocesso [dos anos 90] com cartas distintas. Guillermo Lasso e Cynthia Viteri [candidatos da direita, opositores de Correa] representam uma proposta regressiva para o Equador. Assim como aconteceu na Argentina, ambos não conseguiram chegar a um acordo para formular uma candidatura unificada. Esta opção unitária, tão em moda na Venezuela, segue sendo o desejo externo para derrubar as propostas progressistas. Mas neste momento as direitas estão mais fragmentadas o que o poder econômico internacional gostaria.

O Equador provavelmente seguirá como laboratório para a direita buscar escândalos capazes de mudar a agenda de campanha. Fizeram isso com Evo, com Cristina, fazem permanentemente com o Chavismo e, seguramente já prepararam algumas cartas para sacar da manga nas últimas semanas antes das eleições.

De fato já chegaram em solo equatoriano os assessores de Bill Clinton e Barack Obama para começar a guerra suja contra a Revolução Cidadã. Viteri, por sua parte, já começou a recitar o manual de sempre, mas com uma performance mais próxima à onda Capriles – Macri [Henrique Capriles, opositor de Nicolás Maduro]. No caso de Lasso, preso ao seu passado de banqueiro apela a outro clássico: “ninguém pagará impostos”. Ambos procuram vencer com manobras arcaicas, mas apresentam-se como algo novo.

Falta apenas um mês para saber quem finalmente vai avançar. Tudo indica que a Revolução Cidadã seguirá sendo a força mais votada. A questão é saber se terá votos suficientes para ganhar no primeiro ou no segundo turno. A batalha eleitoral é no Equador, mas todo o continente depende do que acontecer. Se vencer o banqueiro, o neoliberalismo arcaico poderá tomar o coração do sistema; se Viteri ganhar, a “nova direita” vai apelar às suas habilidades de sedução eleitoral. Mas se for a Revolução Cidadã, esperamos que os torcedores do contra se calem por uns meses e se dediquem a outro tipo de profecias.