Para OEA, o muro não é contra o México, mas contra a América Latina

O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, foi um dos dirigentes mais críticos à campanha de Donald Trump contra o México. Em entrevista recente ao El País afirmou que “o muro é entre os EUA e a América Latina”.

Luis Almagro

Para Almagro, o dinheiro necessário para construir o tal muro na fronteira entre EUA e México, estimado em 15 bilhões de dólares, “seria muito mais importante como contribuição para a eliminação das causas reais da imigração latino-americana aos Estados Unidos: a insegurança, a falta de oportunidades, os níveis de desenvolvimento… Isso seria muito mais eficiente para qualquer política imigratória americana que a construção de um muro”.

Sem meias palavras, Almagro é enfático ao dizer que a construção deste muro não separa o México dos Estados Unidos, mas trata-se, na verdade de “uma barreira entre o país e a América Latina”.

A OEA é a organização regional mais antiga do mundo, foi fundada em 1890 e formalizada em 1948. Almagro acredita que, por menos diplomático que possa vir a ser o governo Trump, não terá efeitos negativos sobre a instituição. “A OEA e está assentada em princípios e valores muito fortes, que serviram para estruturar um sistema de convivência no continente, baseado no respeito à democracia e aos direitos humanos. Esses princípios foram sustentados e aprofundados, com qualquer administração americana. Nosso trabalho continuará sob os mesmos parâmetros”, esclareceu.

Apesar do posicionamento agressivo de Trump contra os países da América Latina, especialmente o México, Almagro tem esperança em relações “amistosas”. “Tensões bilaterais existiram e existem em todo o hemisfério. Sempre esperamos que os países encontrem o caminho para resolvê-las, para solucionar suas diferenças de maneira amistosa”.

Antes de assumir a secretaria-geral da OEA Almagro foi chanceler do governo de José Mujica, no Uruguai e está na entidade desde 2015. Neste curto período já enfrentou desafios históricos no continente, como a reaproximação de Cuba e Estados Unidos, os Diálogos de Paz entre o governo da Colômbia e as Farc e o golpe de Estado contra Dilma Rousseff no Brasil, além da crise política e econômica na Venezuela.