Cotado para a Justiça, Velloso é advogado de Aécio no STF

Depois de muita especulação e de encontros no Palácio do Planalto, Michel Temer indicou o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso para assumir o Ministério da Justiça. O magistrado foi indicado pelo PSDB, que apoia a gestão Temer, e substitui o também tucano Alexandre de Moraes, indicado para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

Comprovante de pagamento da campanha de Aécio a Velloso - Reprodução GGN

Os tucanos tiveram papel determinante na escolha do novo ministro. E não se fizeram de rogados. Velloso é amigo e atua como advogado do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, em dois processos que responde como desdobramento da Lava Jato. A amizade é tanta que ele nem cobra honorários.

Em entrevista ao Estadão, ele explica: “Fui amigo de Tancredo Neves, avô de Aécio, e de Aécio Cunha, pai de Aécio. E sou amigo de Aécio desde os seus 22 anos, quando o conheci, em Belo Horizonte. Sou seu advogado nesses dois casos, em razão dessa amizade. Mais até como conselheiro”.

Os processos de Aécio que estão sob os cuidados de Velloso têm origem na delação premiada do ex-senador Delcídio Amaral, preso acusado de obstrução da Lava Jato, que acusa Aécio de atuar para maquiar dados do Banco Rural na CPMI dos Correios que envolveria membros do PSDB. Outra acusação é de receber propinas em um esquema de corrupção em Furnas. Ambos os inquéritos estão sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes.

Mas não é só de amizade que vive o escritório de Velloso. Como qualquer advogado ele cobra honorários, inclusive dos amigos. Reportagens publicadas em 2014 mostram que o senador Aécio Neves (PSDB) usou dinheiro da campanha à Presidência da República para pagar os serviços de dois ex-ministros do Supremo Tribunal Federal no episódio do aeroporto de Cláudio.

Durante a corrida eleitoral, o jornal Folha de S. Paulo revelou que Aécio, quando governador de Minas Gerais (2003-2010), construiu um aeroporto de R$ 14 milhões em um terreno que foi desapropriado de seu tio-avô, Múcio Tolentino, ex-prefeito da cidade de Cláudio.

Os pareceres emitidos pelos escritórios de Ayres de Britto e Carlos Velloso atestaram a legalidade de uma obra pública em um terreno desapropriado pelo estado. À época, a Folha noticiou que o escritório de Britto cobrou R$ 56 mil pelo serviço. Segundo a prestação de contas da campanha de Aécio declarada ao Tribunal Superior Eleitoral. Velloso, por sua vez, recebeu R$ 58 mil.

Oficialmente, Velloso ainda não aceitou o pedido. Em entrevista à Globonews, apesar de dizer que os encontros com Temer foram apenas de “amigos”, Velloso falou como ministro. Disse que a Lava Jato é intocável e fez elogios ao juiz Sergio Moro, responsável pelos processos em primeira instância.

Sobre a pauta dos encontros com Temer, Velloso disse que falou sobre a segurança pública e Lava Jato. “Impensável achar que ministro de Estado vá interferir na operação”, adiantou ele em seu discurso de futuro ministro. Caso assuma o Ministério da Justiça, Velloso terá que deixar de atuar como advogado, seguindo o Estatuto da Advocacia.