Altamiro Borges: Raduan Nassar e as vaias a Roberto Freire

Nesta sexta-feira (17), o renomado escritor Raduan Nassar recebeu o Prêmio Camões, instituído pelos governos do Brasil e de Portugal, em 1988, para homenagear os autores que enriquecem o patrimônio literário e cultural da língua portuguesa.

Raduan Nassar

Mas a solenidade, realizada no Museu Lasar Segall, em São Paulo, acabou virando um ato de repúdio ao "golpe dos corruptos" que depôs a presidenta Dilma e alçou ao poder a quadrilha de Michel Temer. Numa atitude corajosa e coerente, Raduan Nassar fez uma dura fala contra os golpistas. Presente ao evento, Roberto Freire, o sinistro da Cultura do covil, ficou irritado e desferiu ataques ao escritor, o que lhe rendeu sonoras e prolongadas vaias.

Segundo relato da Folha, o governo ilegítimo e medroso inclusive alterou a programação do evento. "Pelo visto prevendo que o autor de 'Lavoura Arcaica' faria um contundente discurso sobre o governo de Michel Temer, o Ministério da Cultura inverteu a ordem tradicional da cerimônia. Em vez de falar por último, Raduan Nassar falou primeiro. Isso permitiu que o ministro Roberto Freire tivesse a última palavra, causando constrangimento com uma resposta dura a Raduan, que havia acusado o governo de golpista. O ministro sugeriu que o escritor não deveria aceitar o prêmio, no valor de €100 mil (cerca de 330 mil reais)" e foi recebido por vaias e gritos de "Fora, Temer" da platéia.

"O clima era tenso. Enquanto Freire falava de improviso, deixando de lado o discurso que havia preparado, a plateia o interrompia com protestos. O poeta e professor da USP Augusto Massi dizia ao ministro: 'Acho que você não está à altura do evento!'. 'Permitimos que o agraciado dissesse o que quisesse e imaginasse', rebateu Freire, que ainda qualificou o protesto de Raduan como 'histriônico'… A filosofa Marilena Chaui, também presente, gritou 'O silêncio é precioso' e ouviu do ministro que ela estava dizendo aquilo por ser 'de classe média' – em referência à ocasião, em 2013, em que a intelectual bradou que odiava a classe média".

A postura provocadora de Roberto Freire, ex-dirigente do PCB que se transformou em um notório político fisiológico, carreirista e direitista, só evidencia o desespero e o despreparo da quadrilha que assaltou o poder no Brasil. Após aparelhar o ministério com seus cupinchas – alguns deles acusados de crimes de corrupção – e sabotar projetos de inclusão cultural, o eterno coronel do PPS é hoje uma pessoa detestada pelo mundo da cultura. Raduan Nassar tem o seu lugar garantido na história; já Roberto Freire tem o seu lugar assegurado no lixo da história.