França: candidato de direita no olho do furacão

Uma verdadeira tempestade foi desatada na França com dois anúncios recentes: o iminente impedimento judicial do direitista François Fillon e sua decisão de, apesar dessa grave circunstância, continuar como candidato às eleições presidenciais.

François Fillon - Prensa Latina

Fillon comunicou publicamente que foi citado para comparecer diante dos juízes com vistas a uma condenação formal pelo caso dos supostos empregos fictícios concedidos a seus familiares, a qual, segundo suas declarações, não lhe impedirá de "continuar até o final" na corrida para chegar ao Palácio do Eliseu.

A onda de reações não se fez esperar e enquanto muitos integrantes do partido conservador Republicanos (LR) manifestaram seu apoio ao candidato presidencial, outras figuras de importância na formação lhe retiraram o apoio, como os deputados Bruno Le Maire, Pierre Lellouche e Catherine Vautrin.

Le Maire, quem fazia parte da equipe de campanha, explicou que Fillon faltou com seu compromisso de se retirar no caso de imputação – como prometeu faz algumas semanas -, e assim não pode mais apoiá-lo.

Como Le Maire, existem cada vez mais políticos que exigem que o aspirante se afaste do processo eleitoral "pelo bem do partido", quem consideram de antemão vencido por ter um representante tão questionado.

De outro lado, a União de Democratas e Independentes (UDI) anunciou a suspensão de seu apoio formal a Fillon.

Depois de uma reunião de emergência realizada quarta-feira à tarde, o presidente da formação Jean-Cristophe Lagarde comunicou o fim do apoio ao político conservador, bem como um novo encontro na próxima semana para tomar uma decisão coletiva sobre a participação da UDI nas eleições.

No caso dos rivais políticos, as reações não se fizeram esperar: o centrista Emmanuel Macron indicou que o caso judicial é uma questão que só cabe a Fillon e aos juízes.

Mesmo assim, criticou a intenção do conservador de se apresentar nas eleições para "ser julgado não pela justiça, e sim pelos franceses", pois segundo Macron, esse não é o papel dos eleitores nas eleições presidenciais.

Por sua vez, o socialista Benoit Hamon considerou como incrivelmente violentas as palavras emitidas por Fillon para a justiça da França com acusações de que "o estado do direito foi violado sistematicamente".

Para Hamon, o escândalo em torno do candidato conservador está afetando muito a campanha eleitoral ao impedir um verdadeiro debate de ideias.

De seu lado, o esquerdista Jean-Luc Melenchon avaliou que talvez a direita devesse procurar outro representante.

Uma das questões mais polêmicas foram os pronunciamentos do candidato em relação ao funcionamento da justiça, à qual acusou de querer afasta-lo das eleições.

Frente a isso, o presidente François Hollande emitiu um comunicado no qual defendeu o funcionamento independente da autoridade judicial na França.

O mandatário considerou que "como garante da independência da autoridade judicial, devo reagir solenemente contra todo questionamento aos magistrados nas investigações e instruções que eles desenvolvem, no respeito ao Estado de direito".

Ainda que não tenha mencionado explicitamente a Fillon, suas palavras apontaram diretamente ao candidato.

"Uma candidatura à eleição presidencial não autoriza ninguém a lançar suspeitas sobre o trabalho dos policiais e dos juízes, a criar um clima de desconfiança incompatível com o espírito de responsabilidade e, pior ainda, a lançar acusações extremamente graves contra a Justiça e nossas instituições", assinalou.