Agricultores gregos dizem "não" às reformas de Tsipras

Mais de mil agricultores, na sua maioria provenientes de Creta, manifestaram-se na quinta-feira (9), em Atenas, contra a reforma tributária e das pensões implementada pelo governo grego no âmbito das exigências feitas pela troika de credores internacionais.

Polícia de Atenas reprime protesto de agricultores

Muitos dos agricultores chegaram ao porto do Pireu provenientes de Creta, deslocando-se em seguida para o Ministério da Agricultura, com cajados nas mãos, em protesto contra as políticas de austeridade levadas a cabo pelo governo da coligação Syriza-Anel, como contrapartida pelo terceiro empréstimo à Grécia, negociado em julho de 2015, e assinado no mês seguinte, com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional.

Entre as medidas exigidas à Grécia pelos 86 bilhões de euros contemplados no "plano de resgate", contam-se a subida da tributação dos rendimentos, o aumento das contribuições para a Segurança Social, o aumento da idade da reforma, a diminuição de benefícios fiscais – fatores que, associados aos elevados preços à produção, estão a levar os agricultores gregos à ruína. "Eles não querem que a gente trabalhe, eles querem-nos matar a todos (…). É uma catástrofe, não conseguimos produzir nada", disse um dos manifestantes em Atenas à PressTV.

Os agricultores tentaram dialogar com o governo, enviando uma delegação ao Ministério que o secretário de Estado da Agricultura se recusou a receber, segundo referem a Prensa Latina e a agência Reuters. A partir daí, registaram-se confrontos entre os manifestantes e a Polícia de Intervenção, que usou gás lacrimogêneo e cassetetes para dissolver a concentração.

Oposição à "política de esbulho"

A reforma das pensões, a perda de benefícios fiscais e o aumento previsto da tributação nos rendimentos dos agricultores gregos levou-os a realizar, no início do ano passado, um protesto que se prolongou por várias semanas, durante o qual bloquearam algumas das principais vias rodoviárias do país, bem como diversos pontos nas fronteiras com a Bulgária e a Turquia.

Para além dos agricultores, centenas de milhares de trabalhadores e pensionistas do sector público e privado, afetados pelas medidas de "austeridade" que a troika estrangeira exige e o governo grego aplica, têm realizado inúmeras ações de protesto.

A Grécia está sujeita às imposições da troika desde 2010 e, pese embora as expectativas geradas em torno do Syriza quando da sua vitória eleitoral, em janeiro de 2015, o atual governo não inverteu a política de cortes na despesa pública e de retirada de direitos aos trabalhadores.