Penélope Toledo: Camaradas esportistas

 No dia 25 de março, o Partido Comunista do Brasil completou 95 anos. A História de luta das/os comunistas, dentro ou fora do Partido, se confunde com a própria História do nosso país e o que não faltaram foram esportistas jogando no time das/os que dedicam a vida por um mundo melhor, ainda que paguem um preço alto por isto.

joão saldanha

Um deles é o jornalista João Saldanha, técnico que montou a seleção de 1970. A conquista do tricampeonato mundial não teve Saldanha no banco, pois pouco antes da Copa ele foi destituído a mando do ditador Médici por ser comunista e amigo de Carlos Marighella. Todos os jogadores, exceto Pelé, o apoiaram.

Sócrates liderou a “democracia corintiana”, movimento que em plena ditadura militar estabeleceu a democracia interna no clube, com todas as decisões sendo votadas pelo grupo. Comemorava seus gols com o punho cerrado, simbologia lançada pelo Partido Negro Revolucionário estadunidense, de orientação marxista-leninista. E dizia: “Sou socialista e morrerei socialista”.

Os ex-jogadores Jamelli (São Paulo e Santos) e Bobô (Bahia, São Paulo, Flamengo, Fluminense e Corinthians) são dois exemplos de atletas que se filiaram ao PCdoB.

Pelo mundo

Ídolo flamenguista, o sérvio Petkovic marcou um golaço ao responder à apresentadora Ana Maria Braga sobre como era ter nascido na ex-Iugoslávia, um lugar, segundo ela, com tantas dificuldades: “Quando eu nasci não tinha dificuldade nenhuma, a gente vivia um regime socialista. Todo mundo tinha trabalho, salário. Os problemas aconteceram quando o socialismo caiu”, lacrou.

Mesmo nos países fortemente capitalistas, há socialistas. O lutador estadunidense de MMA Jeff Monson, o The Snowman (Homem da Neve) quis entrar na arena ao som do hino da antiga União Soviética em 2012. E o treinador inglês Bill Shankly, que levou o Liverpool da 2ª divisão para o tricampeonato nos anos 1970, era um socialista militante.

O craque argentino Diego Maradona é fã confesso de Fidel Castro e Hugo Chávez. Ele tatuou a imagem de Che Guevara no braço e foi comentarista da multi-estatal Telesur, cuja sede fica na Venezuela, na última Copa do Mundo.

Na Itália, dois jogadores comemoravam gols com o punho cerrado: Paolo Sollier, militante da Vanguarda Operária na década de 70 e Cristiano Lucarelli, banido da seleção italiana em 1997 por mostrar uma camiseta do Che por baixo do uniforme. “Para alguns, o sonho é ser milionário, comprar uma Ferrari, um iate. Para mim o melhor da vida seria jogar em Livorno”, disse, em referência ao clube da cidade em que o PCI foi fundado.

Torcidas

Além do Livorno, clube de tradição socialista cujas/os torcedoras/es cantam nas arquibancadas que “quem não pula é fascista”, outras torcidas merecem destaque, como a do pequeno Omonoia, do Chipre, que tem feito manifestações pró-comunistas, dentre as quais um mosaico com a foice e o martelo.

No Brasil, o Madureira estampou o rosto de Che Guevara em sua camisa em 2013 e foi o uniforme mais vendido da história do clube, com as vendas que antes eram cerca de 10 peças por mês saltando para mais de 3000 por semana. A homenagem foi uma comemoração aos 50 anos da excursão a Cuba, quando foram recebidos por Che em pessoa. O Madureira foi o primeiro clube brasileiro a visitar Cuba pós-revolução.

Outras torcidas, como a Vascomunistas, no Rio de Janeiro e a Ultras Resistência Coral, do Ferroviário-CE, são simpáticos ao comunista. A torcida cearense tem como lema: “Nem guerra entre torcidas, nem paz entre classes”.

O esporte é uma arena de resistência e luta por direitos dentro de si e na sociedade. Que as iniciativas pontuais se unifiquem e se tornem grandes movimentos coletivos que ajudem a construir um mundo melhor, mais justo, igualitário, sem exploração e sem classes sociais. Parafraseando Marx: “esportistas de todo o mundo, uni-vos”.

Parabéns ao Partido Comunista do Brasil pelos seus 95 anos de muita luta. Hasta la victoria siempre.